O Papa Francisco considera que a recente queima do Alcorão em Estocolmo é um acontecimento "inaceitável" e "condenável" e pediu que a liberdade de expressão não seja usada como "desculpa para ofender outros".
Numa entrevista exclusiva ao jornal estatal dos Emirados Árabes Unidos Al Ittihad, publicada hoje, o Papa afirma: "Permitir isso [queima do Alcorão] é inaceitável e condenável (...). A liberdade de expressão não deve ser usada como desculpa para ofender os outros (...). A nossa missão é transformar o sentido religioso em cooperação, fraternidade e obras tangíveis do bem", afirmou.
Na entrevista, o Papa referiu-se ao documento Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Coexistência Comum, que assinou em fevereiro de 2019 com o xeque da mais importante instituição do islamismo sunita (Al Azhar), Ahmed al Tayeb, durante a visita aos Emirados Árabes Unidos.
"Agora precisamos de construtores da paz, não de fabricantes de armas, não de instigadores de conflitos (...). Precisamos de bombeiros, não de incendiários, precisamos de defensores da reconciliação, não daqueles que ameaçam a destruição", disse.
De acordo com o jornal, o Papa acrescentou: "Ou a civilização da fraternidade ou a inimizade retrógrada (...). Ou construímos o futuro juntos ou não haverá futuro".
No dia 28 de junho, primeiro dia da celebração do Eid al Adha, um homem de origem iraquiana queimou páginas de uma cópia do livro sagrado em frente à Grande Mesquita de Estocolmo, durante uma manifestação autorizada pelas autoridades suecas que contou com a presença de cerca de 200 pessoas.
Este ato foi condenado popular e oficialmente no mundo árabe e islâmico e países como Arábia Saudita, Marrocos, Jordânia e Emirados Árabes Unidos chamaram os embaixadores suecos dos seus respetivos países.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, responsabilizou a Suécia por permitir o ato e alertou-a sobre os "resultados e consequências deste hediondo incidente"
No domingo, o Ministério das Relações Exteriores da Suécia condenou a queima das páginas do Alcorão, classificando o ato como "islamofobia".
Em comunicado, o Governo sublinhou que os "atos islamofóbicos cometidos durante os protestos na Suécia podem ser ofensivos para os muçulmanos".
Assim, "condenou fortemente" o ocorrido, ressalvando que os incidentes em causa não refletem as opiniões do executivo.