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Começou esta quinta-feira a cimeira sobre abusos sexuais no Vaticano, com os dois primeiros oradores a sublinhar a importância de se escutar e compreender as vítimas.
Depois das palavras de introdução do Papa Francisco, e de terem visto um vídeo com testemunhas de algumas pessoas que foram abusadas por membros da Igreja, o cardeal Luis Antonio Tagle tomou a palavra e referiu a importância de se levar a sério a dor das vítimas.
“Se queremos servir as vítimas, e todos os que foram feridos pela crise, temos de levar a sério a ferida de ressentimento e dor, e a necessidade de cura”, disse.
“A ausência de resposta ao sofrimento das vítimas, sim, mesmo ao ponto de as rejeitar e encobrir o escândalo para proteger os culpados e a instituição, tem magoado os nossos fiéis, deixando uma ferida profunda na nossa relação com aqueles que somos chamados a servir”, concluiu Tagle.
O cardeal filipino foi seguido pelo arcebispo Charles Scicluna, atualmente arcebispo de Malta, mas que trabalhou durante anos na Santa Sé, precisamente a lidar com casos de abusos sexuais e continua a desenvolver atividade nessa área.
Conhecido como um dos maiores especialistas da Igreja no que diz respeito a abusos sexuais, Scicluna recordou aos bispos presentes as suas obrigações neste campo, nomeadamente a importância de se avisar sempre a Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, de qualquer caso nacional, de respeitar integralmente as diretrizes internas para lidar com casos de abusos sexuais e também as leis nacionais.
As vítimas devem ter acesso a mecanismos de denúncia de casos de abusos, disse, e os protocolos para garantir a segurança das crianças devem estar disponíveis e ser de compreensão simples. É importante, ainda, que as normas internas de cada conferência episcopal sejam continuamente atualizadas.
Scicluna falou também da importância de toda a Igreja se comprometer com a escolha de novos bispos, recordando que é um “pecado grave contra o ministério episcopal” esconder qualquer informação sobre um candidato a bispo que possa por em causa a sua capacidade de liderança e de paternidade espiritual.
“A comunidade dos fiéis à nossa guarda deve saber que estamos a falar a sério. Devem vir a ver-nos como amigos da sua segurança, dos seus filhos e juventude. Trataremos com eles com candura e humildade. Protegê-los-emos a todo o custo. Daremos a nossa vida pelos rebanhos que nos são confiados”, disse Tagle.
A cimeira continua durante mais três dias. Os bispos procuram formas de lidar com a crise que tem abalado a Igreja nas últimas duas décadas. Para além de milhares de casos de abusos sexuais praticados por membros do clero, esses crimes foram várias vezes encobertos pelos bispos, para evitar escândalos e suportar preservar o bom nome da Igreja.