A presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, acusou esta segunda-feira o Ministério da Saúde de "falta de vontade política, má fé e falta de competência em resolver a situação" de tensão com os profissionais de saúde.
Quando se cumpre quase um mês desde que a FNAM entregou uma contraproposta ao Ministério liderado por Manuel Pizarro, ainda sem resposta, Joana Bordalo e Sá explica à Renascença os motivos que levaram os médicos a convocar uma nova greve para 14 e 15 de novembro perante o silêncio do Governo.
"Acreditamos que existe dinheiro. Há que dar nota de que, do orçamento da Saúde para 2023, só 10% é que foi executado, no entanto já estão a propagandear que vão aplicar fundos e mundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que são fundos europeus, para aplicar na saúde", denuncia a responsável.
"Infelizmente, não estamos a ver isso ser aplicado nos recursos humanos fixos, nomeadamente nos médicos, para poderem estar no Serviço Nacional de Saúde (SNS)."
A FNAM tem agendado um conjunto de iniciativas de paralisação da atividade dos médicos, exigindo salários justos e condições de trabalho dignas para todos os médicos no SNS.
A presidente da federação diz que os médicos não vão abrandar enquanto o Ministério não responder e poderá haver constrangimentos nas urgências dos hospitais de todo o país.
"A questão de entregarmos as minutas das 150 horas - indisponibilidade para fazer mais do que 150 horas - extraordinárias poderá mesmo paralisar vários serviços de urgência, de norte a sul do país", alerta.
Em reação à entrevista que o secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, deu ao Público, na qual adiantou medidas para o financiamento do SNS com base nas diferentes situações clínicas das populações locais, Joana Bordalo e Sá qualifica as palavras do governante como "propaganda".
"No fundo, foi uma súmula de tudo o que se tem vindo a discutir ou tendo sido apresentado, ao longo do tempo, e de que a FNAM já deu nota, por várias vezes, que são medidas insuficientes e que não passam de propaganda do Governo, em como vão conseguir atrair mais médicos para o SNS. Não é verdade."
A dirigente sindical explica que a proposta salarial apresentada pelo Governo "diferencia entre as especialidades, porque os vencimentos dos médicos de família não são iguais aos hospitalares, médicos de saúde pública e aos internos", algo que a classe médica não pode aceitar, por considerar que deve existir "um aumento que seja proporcional e que seja transversal, igualitário e equitativo para todos os médicos".
Sem isso, a presidente da FNAM considera que a postura do Governo não é séria e terá como consequência o afastamento de mais profissionais. "Isto é fazer com que haja mais médicos a sair do SNS e não a ficar", remata.