No mês passado realizaram-se menos 819 mil atendimentos presenciais nos centros de saúde (uma quebra de 47% face a igual período do ano passado). O presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar explica que a queda está relacionada com a falta de recursos humanos e há tarefas obrigatórias, que além de não fazerem sentido, estão a atrasar o trabalho dos médicos.
Segundo os números do “Jornal de Notícias”, em julho, realizaram-se 940 mil consultas presenciais nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), o que representa uma quebra de 47% face a período homólogo do ano ano passado.
À Renascença, Rui Nogueira deixa a ideia de que, em tempo de pandemia, os médicos não conseguem chegar a todo o lado. Segundo especialista, “há muitos envolvidos com a resposta à Covid-19, inclusive 97% dos casos positivos são seguidos pelo médico de família. Além disso, temos 400 médicos de família que estão em concurso, o qual em condições normais devia ter sido feito em maio. Mas este é um fator que também nos está a atrasar. Contudo, existem outras razões, inclusive a falta às consultas porque os doentes ainda têm medo”.
O presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar queixa-se ainda de os médicos estarem obrigados a desempenhar tarefas que não são prioritárias, como ligar constantemente para a doentes infetados, mesmo quando estão assintomáticos.
“Nesta altura, não me parece que faça sentido haver uma ligação obrigatória diária aos doentes ou casos positivos. Muitas vezes são casos positivos sem que haja sintomas ou então são já doentes assintomáticos, que apenas estão a aguardar a realização de teste para que sejam dados como recuperados. Se esta era uma medida absolutamente essencial em março, abril ou maio - altura em que estávamos com muitos casos e ainda sem conhecer os desenvolvimentos da pandemia- neste momento é redundante ligar diariamente”, defende.
Rui Nogueira teme ainda que o cenário piore com um eventual aumento dos casos positivos no inverno e com o cansaço dos profissionais de saúde.
“Quando a Covid-19 surgiu em março, já tínhamos tido as infeções respiratórias no inverno. Portanto, tivemos duas ondas e, agora, provavelmente vamos ter uma onda única com muitos mais casos em simultâneo. Temos de organizar muito bem esta resposta”, alerta.