O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do futuro aeroporto do Montijo, que entrou esta segunda-feira em consulta pública, aponta diversas ameaças para a avifauna e efeitos negativos sobre a saúde da população por causa do ruído. Há também o perigo de colisão de aves e aviões.
Do conjunto da documentação disponibilizada no site da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) consta um aditamento entregue este mês em que se reconhece um impacte "muito significativo" para uma espécie de ave (fuselo - Limosa lapponica), "moderadamente significativo" para nove espécies e "pouco significativo" para 18 outras.
Contudo, do ponto de vista do impacto global previsto para a avifauna, os responsáveis pelo documento consideram que "é, em geral, pouco significativo a moderado para a comunidade estudada, e não 'muito significativo', como mencionado no Parecer ao EIA".
A caracterização efetuada para a fauna permitiu elencar 260 espécies para a área abrangida pelo estudo. Das espécies identificadas, 45 aves apresentam estatuto de proteção.
O EIA diz que os impactes mais importantes na fase de exploração são para as aves e decorrem da circulação de aeronaves sobre o Estuário do Tejo, em especial para norte, e "que irá causar uma elevada perturbação ao nível do ruído nos habitats de alimentação e refúgio para este grupo".
"Estes impactes são mesmo considerados como os mais significativos do projeto", referem os autores do documento, que dizem, no entanto, que uma vez que está em causa a afetação de habitats de refúgio/alimentação de várias espécies importantes, "é proposto um conjunto de medidas de compensação/mitigação que visa a beneficiação de habitats" e que permite "reduzir a significância do impacte identificado".
Ruído e “bird strike”
Já os impactes sobre a mortalidade de aves por colisão com aeronaves (bird strike), concluem que "para o elenco estudado, nenhuma das espécies terá as suas populações afetadas de forma importante pela mortalidade imposta por bird strike".
Outros dos impactes negativos esperado para a fase de exploração do futuro aeroporto do Montijo está associado à perturbação pelo ruído decorrente do atravessamento de aeronaves numa parte do território do Barreiro e da Moita, "que poderá condicionar a expansão urbanística prevista para este território", refere o EIA, que prevê que o concelho mais afetado seja o da Moita.
Contudo, prevê igualmente que, "com a aplicação de medidas ambientais adequadas e indicadas para o Ambiente Sonoro, o impacte possa ser, de certa forma, minimizado".
Sublinham que, atualmente, a população desta zona "está maioritariamente exposta ao ruído do tráfego rodoviário e, em menor escala, do tráfego da linha ferroviária do Sado, de movimentação de pessoas em zona de lazer e outras, do tráfego fluvial, de atividades agrícolas e industriais, e das operações aéreas militares da BA6 (Base Aérea n,º6).
Preveem que na fase da construção haja impactes negativos na população da zona envolvente tanto sob o ponto de vista da "elevada incomodidade" como elevadas perturbações do sono.
Já na fase de exploração, por causa do aumento dos níveis sonoros nas aterragens e descolagens, preveem "um aumento da população afetada no que diz respeito ao parâmetro Elevadas Perturbações do Sono, em que se prevê a potencial afetação de 6.555 (2022) a 7.744 (2042) adultos, e ao parâmetro Elevada Incomodidade", com "uma potencial afetação de 12.455 (2062) a 13.723 (2022) adultos".
"Os impactes que decorrem desta afetação resultam em pouco significativos a significativos, sendo os concelhos mais afetados a Moita e o Barreiro", esclarecem.
Aumento de população
Ainda na Fase de Exploração, devido à acessibilidade de passageiros ao Aeroporto por via rodoviária e à presença e funcionamento dos novos Acessos, "estima-se que exista um aumento da população afetada no que diz respeito ao parâmetro Elevadas Perturbações do Sono, entre 1.200 (em 2022) a 1.400 (em 2042) adultos, que se traduz num impacte negativo pouco significativo a muito significativo", refere o documento.
O estudo diz ainda que, no que diz respeito ao parâmetro 'Elevada Incomodidade', se prevê "a potencial afetação de cerca de 3.300 (2022) e de 4.200 (2042) adultos, que se traduz num impacte negativo pouco significativo a significativo nos concelhos do Montijo e Alcochete".
Apesar destes impactes negativos sob a saúde da população, o documento diz que "as medidas ambientais propostas para o Ambiente Sonoro servirão também para minimizar os impactes identificados na Saúde Humana devido aos efeitos do ruído".
A ANA e o Estado assinaram em 8 de janeiro o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o atual aeroporto de Lisboa (Humberto Delgado) e transformar a base aérea do Montijo no novo aeroporto de Lisboa.
O projeto do Aeroporto do Montijo e respetivas acessibilidades, para além da construção de um novo aeroporto na região de Lisboa, engloba também a construção de um novo acesso rodoviário, que permitirá estabelecer a ligação do futuro aeroporto à A12.
O futuro aeroporto do Montijo deverá ser implantado dentro dos limites da Base Aérea 6, na margem esquerda do rio Tejo, a 25 quilómetros de Lisboa, na sua quase totalidade no concelho do Montijo, na União de Freguesias de Montijo e Afonsoeiro. Uma pequena área da Base aérea 6, a nordeste, fica integrada no concelho de Alcochete, na freguesia do Samouco, mas que não será afetada pela construção do Aeroporto.