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A inspecção técnica realizada após a morte de dois instruendos recomenda alterações no curso de Comandos, dos exames às exigências dos treinos. As conclusões foram reveladas esta quinta-feira pela Inspecção-Geral do Exército (IGE).
O relatório da inspecção começa por identificar “a
necessidade de se proceder à revisão dos procedimentos relativos às entrevistas
clínicas, ajustamento da bateria de exames médicos e melhor partilha da
informação clínica”.
A inspecção alerta que é preciso mudar a relação entre a carga dos treinos e os tempos de recuperação do esforço físico, bem como "relativamente à compensação alimentar adequada ao esforço físico, sendo desaconselhado o racionamento de água".
Detectando falhas no sistema clínico, a IGE defende "a necessidade de rever e melhorar o apoio e a evacuação médico-sanitária".
É também apontada a necessidade de aprofundar e reforçar a formação de formadores e comandantes em socorrismo e matérias de saúde, "para permitir uma melhor identificação dos sinais de alerta de sintomas de falência física e formas de mitigação da sua ocorrência".
A IGE também defende a necessidade de "rever e adaptar os programas de formação" dos Comandos, em conformidade com a metodologia estipulada pela nova doutrina de formação do Exército definida em 2013.
O reforço dos recursos humanos da secção de formação e um maior "controlo por parte do Comando do Pessoal" são outras das recomendações.
CEME pede avaliações
Depois de analisar as conclusões deste relatório, o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), o general Frederico Rovisco Duarte, determinou "a realização com carácter de urgência de uma avaliação do sistema de informação clínica, cujos resultados lhe deverão ser apresentados até 20 de Janeiro de 2017".
O general Frederico Rovisco Duarte também pediu "a reavaliação das provas de classificação e selecção para as tropas especiais, cujos resultados lhe deverão ser apresentados até 27 de Janeiro de 2017", e a "continuação da elaboração com carácter de urgência dos referenciais do Curso de Comandos".
O comunicado do Exército com estas informações adianta que os próximos cursos de Comandos se mantêm cancelados até que as recomendações sejam implementadas.
Um curso, muitas polémicas
Os militares Hugo Abreu e Dylan Silva morreram na sequência do treino do 127.º Curso de Comandos na região de Alcochete, no distrito de Setúbal, que decorreu no dia 4 de Setembro, e vários outros receberam assistência hospitalar.
Um total de sete militares foram constituídos arguidos. Aguardam o desenrolar do processo em liberdade, com a medida de coacção de termo de identidade e residência (TIR).
Entre os arguidos está um médico, que foi indiciado por dois crimes de homicídio negligente.
A Renascença avançou no final de Novembro que cinco militares foram admitidos no 127.º curso de Comandos apesar de terem problemas graves de saúde, como doenças crónicas, cardíacas e tumores.
Um dos candidatos sofre de síndrome de Gilbert, uma doença hepática
crónica, de origem genética. Outro tem uma doença cardíaca, também
genética, e antecedentes de epilepsia. Um terceiro instruendo do 127.º
Curso de Comandos tem um tumor ósseo na bacia, visível, segundo o relato
dos processos de exclusão a que a
Renascença teve acesso, “à vista desarmada”. No
quarto caso, o candidato a comando tem duas hérnias discais e o quinto
candidato uma dismetria dos membros inferiores.
Os cinco elementos foram excluídos do curso já depois das mortes de Hugo
Abreu e Dylan Silva terem ocorrido e fazem parte de um conjunto de 16
candidatos que foram afastados do curso por motivos de saúde, tendo
regressado às suas unidades de origem.