O alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros rejeitou esta quarta-feira que se classifique como antissemitismo qualquer crítica à maneira como Israel está a conduzir as operações militares no território palestiniano.
"Devia ser possível defender o direito dos palestinianos a possuírem um Estado, sem que isso implique ser classificado como antissemita", disse Josep Borrell, durante uma intervenção no Parlamento Europeu (PE), em Estrasburgo (França).
E continuou: "Devia ser possível criticar a política do Governo de Israel, porque os governos de qualquer país podem ser objeto de crítica sem que isso implique acusações que querer o mal contra judeus. Não confundamos as coisas! Uma coisa é criticar o Governo de um país, outra é manifestar a rejeição de uma parte da população".
O chefe da diplomacia europeia acrescentou que é possível colocar em pé de igualdade o "maior massacre" contra a população judaica desde a Segunda Guerra Mundial, perpetrado pelo movimento islamita Hamas no dia 7 de outubro, e a "catástrofe humanitária inédita" na Faixa de Gaza, provocada pelos bombardeamentos israelitas.
"Não é uma catástrofe humanitária de origem natural, foi criada pelo Homem através do corte ao acesso da população a necessidades básicas. As próprias Nações Unidas classificaram-no como 'carnificina'", advertiu Josep Borrell perante os eurodeputados.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) lançou uma investigação para averiguar a prática de crimes de guerra e de genocídio por parte de Israel.
O alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros lembrou as advertências feitas pelo procurador-geral do TPI, Karim Khan, de que Israel tem "obrigações claras no que diz respeito à guerra que está a levar a cabo contra o Hamas".
"Não são apenas obrigações morais, mas também jurídicas derivadas do direito nos conflitos armados, e que afetam o acesso da população a necessidades básicas para a sua subsistência", completou.
Josep Borrell reconheceu que a UE "está enormemente preocupada com o que está a acontecer", em concreto os "ataques perpetrados por colonos israelitas contra civis palestinianos na Cisjordânia, que continuam a aumentar".
"Falamos há 30 anos dos acordos de Oslo, repetindo: 'a solução dos dois Estados, a solução dos dois Estados, a solução dos dois Estados'. Mas pouco ou nada fizemos para alcançá-la. Acreditámos que o problema podia ser encapsulado, que podíamos esquecer-nos dos palestinianos, já que os Estados árabes estavam a construir a paz com Israel", lamentou.