Está orçamentada em um milhão e 800 mil euros a participação portuguesa na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, a realizar-se no final do ano. O valor foi avançado pela comissária da representação nacional durante a apresentação do evento esta segunda-feira em Lisboa. No Ministério dos Negócios Estrangeiros, Manuela Júdice indicou que 340 mil euros virão de mecenato privado, ainda assim “muito abaixo” do que se tinha pensado, na ordem dos dois milhões e meio de euros.
Numa ação conjunta dos Ministérios da Cultura e dos Negócios Estrangeiros, Portugal participará como convidado de honra naquela que é a maior feira do livro da América Latina e a segunda maior do mundo. Serão mais de 40 escritores, com destaque para “os 20 anos da atribuição do Nobel a José Saramago" e para "a celebração de António Lobo Antunes, o único português galardoado com o Prémio Juan Rulfo atribuído pela Feira Internacional do Livro de Guadalajara em 2008”, explicou Manuela Júdice.
O programa intenso inclui visitas às escolas, lançamentos de traduções, sessões de leitura e encontros com leitores. Para o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, este “elevado número de escritores portugueses mostra a grande representatividade” de Portugal e não só os seus astros-maiores da literatura. Para além das homenagens a Saramago e a Lobo Antunes, será também dado espaço a nomes mais jovens da escrita, como o do poeta Vasco Gato. “Nunca podem ir todos”, sublinha o ministro, mas mesmo assim estamos diante de uma “boa escolha da nossa melhor literatura”, considera.
Há muito que o México queria convidar Portugal, explicou aos jornalistas a comissária. Manuela Júdice considera que “o convite foi sendo adiado por razões financeiras” até que, no ano passado, o Governo “considerou que isto era uma oportunidade para a internacionalização da cultura portuguesa”, explica à Renascença.
Esta Feira internacional do Livro de Guadalajara que é, em simultâneo, para o público e para profissionais realiza-se numa cidade do Estado de Jalisco que conta com mais de 5 milhões de habitantes, indica a diretora da feira. Marisol Shculz evoca a memória de José Saramago e destaca os nomes de Fernando Pessoa e de António Lobo Antunes como escritores já conhecidos no México, que agora serão revisitados numa feira cultural marcante para Guadalajara. “São nove dias de feira que se vivem em toda a cidade.”
De 24 de Novembro a 2 de dezembro, 42 escritores de língua portuguesa vão marcar presença num pavilhão da autoria do atelier Santarita com mais de mil metros quadrados. Esta embaixada literária contempla nomes como Gonçalo M.Tavares, José Luís Peixoto, Manuel Alegre, Hélia Correia, Valter Hugo Mãe, Afonso Cruz, entre outros. Na feira vão também estar escritores africanos de língua portuguesa como Mia Couto, o prémio Camões Germano Almeida, Ondjaki ou José Eduardo Agualusa.
Mas nem só de literatura se faz a feira. Haverá também um salão de poesia no qual participam, entre outros, Ana Luísa Amaral, Nuno Júdice ou Filipa Leal, a poeta que diz já estar a preparar a mala para o México. “Pretendo levar pouca roupa e trazer muitos livros, porque é também uma oportunidade de conhecer os escritores dos outros países.” À poeta, que fala numa “honra enorme e oportunidade maravilhosa”, vão também juntar-se músicos.
O programa contempla espetáculos de fado com Kátia Guerreiro, Camané e Ricardo Ribeiro, e de outros estilos de música com Ana Bacalhau, Amor Electro e Dead Combo, bem como o rap de Capicua e o metal dos Moonspell. À Renascença, o vocalista da banda, Fernando Ribeiro, mostra-se orgulhoso de ver o seu grupo incluído “numa seleção nacional de um radar literário” e de regressar a Guadalajara, onde já atuou com os Moonspell.
Esta “seleção nacional” inclui também bailado com a Companhia Nacional de Bailado, cinema com 12 longas metragens e sete curtas, bem como teatro. Tiago Rodrigues, diretor do Teatro Nacional D.Maria II explica-nos que, para além de apresentarem a peça “By Heart”, irão também ter livros na livraria montada no pavilhão de Portugal na Feira. Também no programa estão três exposições, uma delas de Ana Hatherly com curadoria de Paulo Pires do Vale para criar um diálogo entre a obra desta artista portuguesa e artistas mexicanos.