A moratória para os créditos, que afinal traz juros sobre juros, e os cortes nas receitas publicitárias que ameaçam os órgãos de comunicação social foram temas em análise no espaço de comentário de Pedro Santos Guerreiro, na Renascença.
“Sem apoios há jornais que vão fechar”
“A situação é muito complicada. Nós jornalistas, normalmente, não falamos muito de nós próprios, mas a comunicação social já tinha problemas grandes e está a levar uma grande chapada com esta crise. As receitas publicitárias caíram a pique, vende-se menos jornais porque as pessoas não saem de casa, as conferências e eventos foram todas canceladas.”
“Eu conheço bem a situação de muitos grupos e vou ser um bocadinho bruto: não sei como é que alguns meios de comunicação social vão conseguir pagar salários durante todos estes três meses. Há casos que já estão a pensar em lay-off, pelo menos parcial, já há grupos a suspender o pagamento em duodécimos e subsídio de férias, só que os jornalistas estão quase todos a trabalhar, porque nesta altura é essencial prestar informação, esclarecimento, pedagogia à sociedade.”
“Há camaradas nossos a trabalhar em casa, muitos estão em rotação nas redações, muitos estão na rua em reportagem a informar as populações. Paradoxalmente, esta crise está a dar cabo de nós economicamente, mas está a mostrar a importância dos jornalistas para a sociedade. Estamos todos com muita audiência, porque as pessoas querem saber o que se passa de bom e de mau, querem saber a verdade, compreender o que vai sendo anunciado, o que se passa na saúde pública e na economia, querem informação de confiança e não ir atrás de teses da conspiração, pós-verdades ou mentiras nas redes sociais.”
“Nós não somos mais importantes do que muitos outros setores que também estão a ser severamente afetados, mas somos tão importantes como muitos setores que nós diariamente noticiamos. O próprio primeiro-ministro disse isso na declaração do estado de emergência, há duas semanas, quando disse que os quiosques ficavam abertos pelo direito das pessoas no acesso à informação. Não é um direito dos jornalistas, é um direito das pessoas, da sociedade. Há várias propostas, o Governo saberá olhar para elas, espero eu, mas é bom que se perceba que, sem apoios neste momento, há jornais que vão fechar em prejuízo da sociedade e do pluralismo da informação.”
“Bancos deviam ser solidários e não acrescer juros”
“Isto é normal numa moratória. Quando alguém pede para não pagar durante seis meses, na prática, fica a dever dinheiro durante mais seis meses e os bancos cobram juros por esses meses adicionais. Só que esta não é uma moratória normal, é um caso extraordinário e é um caso nacional. Portanto, os bancos deviam ser solidários e não acrescer juros.”
“A moratória também é boa para os bancos, porque senão arriscam ter muitos casos de incumprimento. Neste tempo, temos de nos ajudar todos uns aos outros e esta seria uma ótima oportunidade para a sociedade de conciliar com os bancos, que tanto ajudou nos últimos anos.”