O Ministério Público (MP) acusou Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, Domingos Soares de Oliveira, atual co-CEO da SAD encarnada, a Benfica SAD, a Benfica Estádio e quatro arguidos e uma empresa de fraude fiscal e falsificação de documentos, segundo avançam, esta terça-feira, os jornais "Expresso" e "Jornal de Notícias" nos seus portais.
As acusações do MP inserem-se na operação "Saco Azul", que investiga o pagamento de 1,9 milhões de euros do Benfica à empresa informática Questão Flexível, S.A., por serviços de consultoria fictícios. Detida por José Bernardes, a empresa terá servido de "saco azul" (forma encapotada de suborno) do Benfica. Bernardes e a Questão Flexível estão entre os arguidos.
Luís Filipe Vieira é acusado de três crimes de fraude fiscal e 19 de falsificação. Os mesmos de que estão acusados Miguel Moreira, ex-diretor financeiro da SAD do Benfica, e Domingos Soares de Oliveira.
Segundo o procurador, "tinham perfeita consciência de que as faturas emitidas pela Questão Flexível em benefício das sociedades Benfica, SAD, e Benfica Estádio, S. A., não titulavam quaisquer operações económicas", revela o "Expresso". A Polícia Judiciária não conseguiu descobrir o que aconteceu ao dinheiro que terá servido para encher o "saco azul".
A SAD do Benfica e a Benfica Estádio são acusadas de fraude fiscal. As duas entidades terão pagado cerca de 1,650 milhões de euros à Questão Flexível, que terá passado faturas para "servirem de base à saída, sob a forma de pagamento de serviço, de dinheiro das contas bancárias tituladas pelas duas sociedades, e obter o seu retomo em numerário, de modo a ser depois utilizado de forma não documentada”.
Tratar-se-iam de "faturas de favor", que serviriam apenas para fazer dinheiro da esfera do Benfica, segundo explica o "JN".
Bernardes, que alegadamente cobrava 11% das faturas passadas e terá agido "com consciência e vontade de ser compensado monetariamente", responde pelos crimes de fraude fiscal, falsificação e branqueamento. Paulo Silva e José Raposo respondem por falsificação de documentos.
O Ministério Público considera que o esquema serviu de fuga aos impostos, tanto de IVA como de IRC, num total de 585 mil euros. Valor que deverá ser pago "solidariamente" por todos os arguidos e do qual 116 mil euros são reclamados à Benfica SAD e 307 mil à Benfica Estádio.
Suspeitas de ligação a antigo árbitro
Em fevereiro de 2022, a TVI e a CNN adiantaram que o antigo árbitro Bruno Paixão estava a ser investigado por suspeitas de corrupção desportiva, por ter recebido pagamentos de milhares de euros da empresa "Best for Business", também detida por José Bernardes.
Tal como a Questão Flexível, a "Best for Business" serviria de "saco azul". Os pagamentos a Paixão indiciariam corrupção desportiva, o que, se ficando provado, pode levar o Benfica a descer de divisão.
Em declarações à TVI e à CNN, Paixão negou quaisquer irregularidades e referiu que os ditos pagamentos se referiam a "um serviço de controlo de qualidade" que disse ter prestado no âmbito de uma atividade paralela à de árbitro, de certificação de qualidade de empresas.
Em comunicado, na altura, o Benfica garantiu que a sua SAD "nunca" fora confrontada com possíveis ligações ao antigo árbitro ou suspeitas de corrupção desportiva, no âmbito do processo "Saco Azul".