Líderes dos dois lados do mar da Irlanda uniram-se esta quinta-feira no repúdio contra a violência que tem assolado a Irlanda do Norte e apelaram à paz.
Os protestos na região por unionistas pró-Reino Unido, contra medidas no âmbito do Brexit de controlo de bens no mar que separa a ilha da Irlanda com a Grã-Bretanha, têm originado confrontos com a polícia que já duram há uma semana.
As manifestações têm sido protagonizados, especialmente, por centenas de jovens adolescentes. Em Belfast, a capital da província britânica, na quarta-feira, um grupo de jovens assaltou e incendiou um autocarro e atirou pedras contra a política, imagens que reavivaram as memórias das décadas de violência entre unionistas e independentistas - os mais de 30 anos de confrontos ficaram conhecidos como "Troubles" e mataram cerca de 3.600 pessoas antes do armistício de 1998.
Os confrontos da passada semana já deixaram cerca de 55 políticas feridos. Jovens entre os 13 e os 14 anos estão entre os vários detidos pelos motins. A polícia vincou, no entanto, que as autoridades viram adultos a aplaudir a violência enquanto os jovens atacavam os polícias.
Esta quinta-feira, tanto os líderes protestantes do Reino Unido e da Irlanda do Norte, como os nacionalistas católicos, pediram paz na região.
"Estamos muito preocupados com as imagens que temos testemunhado nas ruas. Apesar das nossas posições políticas serem muito diferentes em vários assuntos, estamos unidos do respeito pela lei e ordem e coletivamente apoiamos as forças policiais", disseram em comunicado a coligação que governa a Irlanda do Norte, que junta membros das duas fações.
O ministro britânico para a Irlanda do Norte, Brandon Lewis, informou esta quinta-feira que visitaria os líderes políticos da Irlanda do Norte. Do outro lado da fronteira, o Governo da República da Irlanda pediu união pelas várias províncias do país (independente do resto do Reino Unido e pertencente à União Europeia), depois de dias de atirar de culpas e apontar de dedos.
Quanto ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson usou o Twitter para salientar a sua preocupação pelos ataques a polícias e dizer que "a forma de resolver diferenças é através do diálogo, não da violência e da criminalidade".
No centro da violência está a oposição do Partido Unitário Democrata (DUP), da primeira-ministra irlandesa Arlene Foster, às novas barreiras no mar da Irlanda - desde que o Reino Unido efetivou a sua saída da União Europeia, foram criadas novas tarifas e controlos na passagem de bens entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, com o objetivo de controlar transações sem criar uma barreira física entre Irlanda do Norte e República da Irlanda.
No entanto, as novas barreiras criadas por Londres deixaram os unionistas irlandeses insatisfeitos, e os apoiantes do DUP criticam as barreiras por irem contra a identidade britânica da região. O ministro irlandês dos Negócios Estrangeiros, Simon Coveney, afirmou que as medidas no âmbito do Brexit eram o principal fator para a violência.
"Não podemos permitir que a nova geração dos nossos jovens seja vítima ou seja aproveitada por aqueles que preferam as sombras à luz", disse Coveney numa assembleia regional.
A acrescentar ao clima de insatisfação entre o DUP e o Governo de Boris Johnson, o partido que governa a Irlanda do Norte considerou errado uma decisão jurídica de não multar ou julgar o líder nacionalista e separatista irlandês Sinn Fein por quebrar as orientações de saúde para a covid-19 num funeral de um antigo líder do IRA (o Exército Republicano Irlandês, responsável por ataques violentos na região).