O prémio Nobel da Medicina 2023 vai para Katalin Karikó e Drew Weissman, que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes de mRNA contra a covid-19.
O prémio foi anunciado esta segunda-feira em Estocolmo, na Suécia, pelo Comité do Prémio Nobel no Instituto Karolinsk
“Estes dois investigadores já eram altíssimos candidatos para receber o prémio Nobel pelos resultados positivos que se observaram ao usar de uma forma global e maciça as vacinas de ARN mensageiro durante a pandemia”, diz à Renascença Maria-Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa e professora catedrática na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Contributo dos laureados
Maria-Carmo Fonseca conta que Katalin Karikó teve a ideia de usar a molécula do ARN mensageiro para levar informação para as células de uma forma que pudesse ser utilizada como tratamento há muitos anos. Desde os anos 90 que a cientista galardoada trabalha nesta temática.
Por outro lado, Dario Weissmann estava “muito interessado” em desenvolver novas formas de produzir vacinas melhores. Foi aí que Karikó e Weissman se encontraram, juntaram o útil ao agradável e tiveram a ideia de começar a explorar o ARN mensageiro para fazer vacinas.
“O papel da Karikó foi absolutamente decisivo porque ela descobriu modificações químicas que introduziu na molécula e que a permitiu ser utilizada de forma terapêutica”, explica a presidente do IMM.
“Até lá, quando se usava a molécula de ARN convencional, a molécula era simplesmente destruída ou provocava uma série de efeitos adversos quando injetada em animais de laboratório.”
Um enorme impacto
Com a pandemia da Covid-19, foi possível, “de uma forma muito rápida, fazer um grande ensaio clínico a nível global e administrar esta nova formulação de vacinas a um grande número de pessoas e os resultados foram o que todos conhecemos”.
“Este tipo de vacina superou as elaboradas com as tecnologias convencionais e, portanto, abriu caminho para novas vacinas serem feitas com a mesma tecnologia”, destaca Maria-Carmo Fonseca.
Em relação à tecnologia convencional, a utilização do ARN mensageiro tem duas grandes vantagens: “é possível produzir a vacina de uma forma muito rápida e o ARN mensageiro mostrou ser muito seguro tendo muito menos efeitos adversos que outras formas de administrar a vacina”.
A professora universitária conta que existem, de momento, múltiplos ensaios clínicos com vacinas de mRNA “não apenas para agentes infecciosos mas para o cancro e mesmo para outras doenças, nomeadamente do foro autoimune, já em fases avançadas”.
Maria-Carmo Fonseca antevê “uma revolução completa na capacidade de tratar doenças que afetam muita gente, que não existia até agora”.