Quase duas semanas e mais de três mil quilómetros depois, a campanha do CDS chega esta sexta-feira ao fim. Francisco Rodrigues dos Santos partiu para as eleições legislativas do próximo dia 30 com dois principais objetivos: reforçar a identidade do partido centrista e acabar com a esquerda no Governo.
“As mesmas razões de sempre” foi o lema escolhido pelo líder do CDS nas ações de campanha por todos os 18 distritos de Portugal continental, uma maneira de lembrar a antigos eleitores do partido aquilo em que já acreditaram. “Queremos recuperar aqueles que fizeram parte do partido e recuperar as bandeiras que nos tentaram tirar”, disse o próprio Francisco Rodrigues dos Santos num dos jantares-comício. Mas será que o esforço valeu a pena?
A seu lado por todo o país, o líder centrista contou apenas com uma dezena de jovens da Juventude Popular que o acompanharam de modo a preencher uma caravana que a meio-gás passou por entre feiras e mercados. A escolha destes locais parece ter sido estratégica com o objetivo de aumentar o número de militantes que os acompanhavam, mas em todas as cidades juntavam-se apenas os cabeças de lista e mais ninguém.
Já no que respeita aos grandes nomes do CDS, foram poucos a aparecer ao longo da campanha.
Lendas do CDS procuram-se
Manuel Monteiro, José Ribeiro e Castro e João Gonçalves Pereira foram os únicos que visitaram Francisco Rodrigues dos Santos durante a campanha. O clima interno no partido parece estar ainda em recuperação e com um estado de saúde muito fragilizado.
Em Braga, Manuel Monteiro teve uma aparição muito curta, o ex presidente do CDS não quis tirar o protagonismo ao atual líder, já José Ribeiro e Castro tem participado em todas as ações em Lisboa, não fosse ele o braço direito de Francisco Rodrigues dos Santos na capital.
A missão de voltar a chamar o núcleo duro do partido parece ter falhado e não se sabe quantas mais vidas vai ter Francisco Rodrigues dos Santos para recuperar as relações perdidas.
No caso de João Gonçalves Pereira, presidente da distrital de Lisboa, apoiante de Adolfo Mesquita Nunes (já desfiliado do partido e opositor de Francisco Rodrigue dos Santos nas eleições internas) e crítico da atual direção do partido participou apenas num jantar, em Lisboa. Foi uma aparição breve que terminou antes de serem servidas as sobremesas.
Nenhum dos deputados eleitos nas últimas legislativas apareceram para dar apoio a Francisco Rodrigues dos Santos, em causa estiveram “isolamentos” ou “incompatibilidades de agenda”.
A ausência de grandes figuras do partido foi questionada por vários populares que se cruzavam com a caravana do CDS que desvaloriza os que não estão presentes. Francisco Rodrigues dos Santos acredita que fez tudo “para mobilizar as gentes do partido”, aos jornalistas o líder centrista confessou “estar satisfeito por ter sido acompanhado por pessoas que quiseram acompanhar o partido num momento difícil”.
Depois de ter sido adiado o congresso previsto para esta altura, o CDS ficou dividido em várias velocidades, mas Francisco Rodrigues dos Santos considera ter legitimidade para continuar. O presidente do CDS considera que “a legitimidade não é dada por jornalistas, comentadores ou opositores, mas antes pelos eleitores”.
Reviravolta das sondagens igual a recandidatura
Desde os tempos de Paulo Portas que o CDS desvaloriza as sondagens. Atualmente, Francisco Rodrigues dos Santos considera que os estudos feitos “são encomendados” para o grupo central.
O CDS começou as sondagens com valores muito baixos, mas a pouco e pouco com a campanha o partido dos centristas conseguiu 1,5% das intenções de voto. Assim que o partido começou a crescer, Francisco Rodrigues dos Santos falou mais alto e com um discurso mais otimista. “ O CDS vai ser a surpresa do próximo domingo” acredita o presidente do partido que em todos os comícios repetia a frase “o CDS nunca morrerá”.
Na segunda e última semana de campanha, o presidente do CDS deixou ainda claro que pretende recandidatar-se à liderança do partido. Francisco Rodrigues dos Santos acredita que vai conseguir entrar num governo de maioria de direita e dessa forma “assegurar que vence novamente as eleições internas”. Francisco Rodrigues dos Santos acredita “que só agora com a campanha é que os portugueses o puderam conhecer”, diz o líder centristas que só nas ultimas duas semanas é que o país conheceu “ o Francisco humilde, que subiu na vida aos poucos”.
Chega copião? CDS diz que sim
Em quase todas as feiras e mercados por onde passou a caravana do CDS havia um ex-militantes do CDS, que ora tinha migrado para o Chega ou para a Iniciativa Liberal.
Neste ponto da direita, Francisco Rodrigues dos Santos conseguiu marcar bem as diferenças entre o CDS e “as novas ameaças”- que é como se refere aos novos partidos de direita. Para deitar abaixo o Chega e a ideia de que é um partido alternativo ao CDS, o líder centrista usou o trunfo da ideologia cristã que vai contra quase tudo o que o Chega defende, como castrações químicas, pena de morte, etc. Francisco Rodrigues dos Santos referiu-se ao Chega como um copião: “Em tudo o que é bom, o Chega imitou o CDS”. O líder dos centristas quis clarificar desde cedo que há mais de 45 anos que o CDS defende as forças de segurança, por exemplo”.
Francisco Rodrigues dos Santos deixou até uma ideia clara: “Os eleitores do CDS têm de fazer apenas escolha clara. Ou votam CDS, ou então elegem deputados do chega que ninguém conhece e deputados da Iniciativa Liberal que votam sempre ao lado da esquerda”.
Ainda sobre o Chega, o presidente do CDS-PP alertou que um voto no Chega não permite ajudar a formação de um governo de direita”. Toda a gente já percebeu que votar no Chega é um voto que não permite formação de um governo de direita em Portugal”.
Francisco Rodrigues dos Santos com muita fruta para o PSD
Outra das alterações na segunda semana de campanha foi a aproximação do CDS e PSD.
Depois de os sociais-democratas terem rejeitado ir em coligação com os centristas para as eleições, os dois partidos reaproximaram-se nos últimos dias, com Rui Rio a prometer o ministério da defesa a Francisco Rodrigues dos Santos.
O presidente do CDS tem como objetivo comandar as forças de segurança e a oferta do PSD, vem depois de Francisco Rodrigue dos Santos reforçar que quer colocar o “PSD no caminho certo” e evitar que Rui Rio torne o Partido social-democrata numa “toranja – laranja por fora e vermelha por dentro”. Sem atacar diretamente o CDS, o líder centrista pediu sem que se votasse no CDS para que o partido tivesse força para impedir que o PSD se juntasse ao PS numa maioria absoluta ao centro.
Francisco Rodrigues dos Santos quer maioria absoluta à direita, sem o Chega.
Mercados e feiras vazios. A culpa é do governo!
Mesmo que quisessem parecer muitos, a comitiva do CDS foi surpreendida pelo menos duas vezes em iniciativas que quase não juntaram ninguém. Em Aveiro, na feira da fogaça o CDS esteve apenas meia hora, depois de não ter encontrado quase ninguém nas ruas. Já na Guarda, o partido passou por um mercado vazio onde se ouvia “são mais os jornalistas que os militantes do CDS”. Mas Francisco Rodrigues dos Santos explicou o porquê de não receber muito apoio no interior – “desertificação”. O presidente do CDS garantiu que “mesmo sabendo que não ia encontrar ninguém quis ir ao interior do país para mostrar a realidade”. O CDS que é contra a regionalização, culpa o governo pela falta de investimento no território português mais esquecido.
E para Francisco Rodrigues dos Santos o que é que correu bem ou mal?
“O carinho dos portugueses emocionou-me muitas vezes”, confessa o presidente do CDS. Francisco Rodrigues dos Santos diz “não estar arrependido de nada” do que fez nas últimas semanas e aponta como ponto mais positivo o contacto com os portugueses. “As ruas de Portugal são o meu escritório e mesmo descalço vou continuar a andar pelo país”, disse o presidente do CDS.
Francisco Rodrigues dos Santos quis aproximar-se da população e talvez isso o tenha ajudado a subir nas sondagens.