O cessar-fogo acordado para a Síria entra em vigor à meia-noite desta sexta-feira (10h00 em Lisboa). A Rússia não perde tempo e, antes da hora marcada, bombardeia as regiões ainda controladas pelos rebeldes.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos contabiliza, pelo menos, 10 raides aéreos a leste da capital Damasco e fala num número indeterminado de vítimas civis.
Os alvos foram Ghouta oriental, o norte da província de Homs e o oeste da província de Aleppo, no Norte, segundo disse agência AFP.
Da Rússia chega também a notícia da data para o início das conversações de paz: 7 de Março, em Genebra (Suíça). A informação é avançada pela agência Reuters, que cita uma fonte do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros.
O cessar-fogo que agora começa foi acordado entre os Estados Unidos e a Rússia na segunda-feira, dia 22 de Fevereiro.
Um cessar-fogo que levanta muitas dúvidas
A especialista em política internacional Lívia Franco mostra-se apreensiva face ao cumprimento e eficácia das tréguas na Síria.
“Este cessar-fogo visa criar condições para um acordo político duradouro”, começa por explicar. “Falta saber se há condições para este cessar-fogo provisório passe a efectivo”, prossegue.
“O principal problema é o facto de os países que são os principais patrocinadores da paz serem países os que estão, directa ou indirectamente, envolvidos no conflito”, adianta a especialista, em entrevista à Renascença. “São países que estão a dar apoio às partes beligerantes”, concretiza.
Lívia Franco duvida, por isso, que estas potências sejam capazes de desenvolver todos os esforços e pressionar as facções beligerantes no sentido de elas cumprirem o cessar-fogo”.
E afirma que a solução para a Síria terá de ser política, algo que só pode ser alcançado “quando as armas se calarem”.
“O cessar-fogo é uma condição ‘sine qua non’ para a paz. O que não quer dizer que qualquer paz cumprirá essa condição. Tenho muitas dúvidas, neste momento, que este cessar-fogo cumpra essa condição” conclui.
Cruz Vermelha apela ao “envolvimento sincero de todos”
Em declarações à Renascença a partir de Damasco, o porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha na Síria, Rafi Qureshi, apela a todas as partes que respeitem o cessar-fogo.
“Somos trabalhadores humanitários, por isso saudamos qualquer iniciativa que traga mais segurança e bem-estar à vida das pessoas. E isso acontecerá certamente, caso este cessar-fogo seja respeitado por todas as partes do conflito”, afirma, acrescentando que, mesmo com a experiência do passado, prefere “ser optimista” quanto ao sucesso do novo acordo.
“Porque, de cada vez que no passado foi possível silenciar as armas, de cada vez que os negociadores se sentarem à mesa com sentido de compromisso, ainda que por pouco tempo, a situação aqui na região foi diferente para melhor”, sustenta.
“Por isso, apelamos ao envolvimento sincero de todos. Se assim for, acredito que desta vez se cumprirá o cessar-fogo”, reforça Rafi Qureshi.
A Síria vive em guerra civil há cinco anos – um conflito que já provocou a morte a mais de 500 mil pessoas e uma onda sem precedentes de refugiados e migrantes que procuram uma alternativa de vida na Europa.
Obama atento, mas sem expectativas
No plano internacional, atenções voltadas para a Síria e para as tréguas que começam esta sexta-feira. O Presidente dos Estados Unidos já avisou que vai estar atento – um recado com o chefe de Estado sírio, Bashar al-Assad, e a Rússia como destinatários.
Barack Obama lembra que os próximos dias vão ser cruciais para o país, ainda que admita haver “bastantes razões para cepticismo” face ao sucesso deste cessar-fogo.
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, confirmou, na terça-feira, estar comprometido com a implementação do cessar-fogo acordado por EUA e Rússia. A mesma garantia chegou esta semana da parte dos principais grupos da oposição síria.