Os agricultores franceses estão a bloquear estradas em todo o país para exigir que o Governo tome medidas para resolver inúmeras queixas, à medida que os protestos no sector agrícola da União Europeia se espalham.
Em Portugal, a distribuição e fornecimento podem ser “severamente” afetados pelo protesto francês, avisa Pedro Polónio, representante da Antram – a Associação Nacional de Transportadores, à Renascença.
Eis algumas das questões que motivaram o crescente movimento de protesto e como o governo poderia responder.
Porque é que os agricultores estão a protestar?
Os agricultores em França, o maior produtor agrícola da União Europeia (UE), dizem que não estão a ser pagos o suficiente e que estão sufocados por uma regulamentação excessiva em matéria de protecção ambiental.
Algumas das suas preocupações, como a concorrência de importações mais baratas e as regras ambientais, são partilhadas pelos produtores do resto da UE, enquanto outras, como as negociações sobre os preços dos alimentos, são mais específicas de França.
Elevados custos
Financeiramente, os agricultores argumentam que a pressão do governo e dos retalhistas para fazer baixar a inflação dos alimentos deixou muitos produtores incapazes de cobrir os elevados custos da energia, dos fertilizantes e dos transportes.
Um plano do governo para eliminar gradualmente uma redução fiscal para os agricultores sobre o gasóleo, como parte de uma política mais ampla de transição energética, também tem sido um ponto de polémica, num eco das tensões na Alemanha.
Importações alimentam descontentamento
As grandes importações provenientes da Ucrânia, para as quais a UE renunciou a quotas e direitos desde a invasão russa, e as novas negociações para concluir um acordo comercial entre a UE e o bloco sul-americano Mercosul, alimentaram o descontentamento em relação à concorrência desleal nos sectores do açúcar, dos cereais e da carne.
As grandes importações são ressentidas pelo facto de pressionarem os preços europeus e não cumprirem as normas ambientais impostas aos agricultores da UE.
Queixas sobre ambiente e burocracia
No que se refere ao ambiente, os agricultores discordam tanto das regras da UE em matéria de subsídios, como a exigência de deixar 4% das terras agrícolas em pousio, como daquilo que consideram ser a aplicação demasiado complicada da política da UE por parte da França, como a restauração de sebes e terras aráveis como habitat natural.
As políticas verdes são vistas como contraditórias com os objetivos de se tornar mais autossuficientes na produção de alimentos e outros bens essenciais, à luz da invasão russa da Ucrânia.
As disputas sobre os projetos de irrigação, à medida que os recursos hídricos se tornam um foco no debate climático, e as críticas sobre o bem-estar animal e a poluição na agricultura aumentaram os sentimentos entre uma população agrícola envelhecida francesa como sendo desconsiderada pela sociedade.
Que medidas pode Governo tomar?
O Governo, sob pressão para desanuviar a crise antes das eleições europeias de junho e da feira agrícola anual de Paris, no próximo mês, adiou o projecto de lei sobre como atrair mais candidatos para a agricultura para acrescentar outras medidas.
O Governo prometeu simplificar os procedimentos para os agricultores. Isso poderá significar tempos de espera reduzidos para pagamentos de subsídios ou aprovações de projectos agrícolas, ou facilitar a burocracia e auditorias sobre conformidade ambiental.
O governo poderá abandonar o seu plano de eliminar gradualmente a redução fiscal do gasóleo, embora já tenha suavizado a medida ao escalonar a medida ao longo de vários anos e oferecendo-se para reinvestir os fundos na agricultura.
Algumas mudanças precisariam da aprovação da UE, como a alteração da regra sobre terras em pousio, e os agricultores alertam que quaisquer concessões poderão chegar tarde demais para os planos de produção deste ano.
Tal como em crises agrícolas anteriores, o governo poderia oferecer ajuda de emergência. Já prometeu fundos para os produtores de vinho atingidos pela queda no consumo e para os agricultores afetados pelas inundações no norte e por uma doença no gado no sul, mas pode anunciar mais dinheiro e pagamentos mais rápidos.