União das Misericórdias diz que médicos se recusaram a trabalhar em lar do Barreiro
24-08-2020 - 18:36
 • Tiago Palma , Isabel Pacheco

Manuel Lemos não adianta se esta é, ou não, uma denúncia isolada. Mas espera vê-la resolvida, “a bem dos portugueses e a bem das pessoas idosas”, já esta terça-feira na reunião entre o primeiro-ministro e o bastonário dos médicos.

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O presidente da União das Misericórdias Portuguesas denuncia, à Renascença, a recusa de assistência médica num lar do Barreiro, distrito de Setúbal, onde foi detetado um surto de Covid-19.

Manuel Lemos explica que o episódio lhe foi relatado pela provedora da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, Sara de Oliveira, após ter pedido o apoio do médico do Centro de Saúde local.

“O lar até tem médica. Na verdade, tem mais do que um médico. Mas os médicos estavam a ter férias no Algarve. Num primeiro momento, nós transferimos os doentes que estavam sintomáticos para os hospitais. E como o lar é grande, tentámos isolar os que estavam assintomáticos dos que estavam negativos. Naturalmente estas pessoas precisam de cuidados médicos. E a senhora provedora telefonou-me no sábado, dizendo-me que o diretor do lar lhe tinha dito que tinha uma carta assinada pelos médicos, que se recusavam a ir ao lar”, explica Manuel Lemos, lembrando que “naturalmente a situação causou-nos [União das Misericórdias] apreensão”.

O caso foi levado, esta segunda feira, à Ordem dos Médicos. E é um assunto que Manuel Lemos espera que seja discutido na reunião de terça-feira entre o primeiro-ministro António Costa e o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

“Neste momento, o caso evidente que temos na mão é o do Barreiro. Não vale a pena fazer futurologia [quanto a outros casos]. Acreditamos que amanhã na conversa com o senhor primeiro-ministro estas e outras situações se resolvam todas. É bom que sim, porque é a bem dos portugueses e a bem das pessoas idosas”, defende o presidente da União de Misericórdias.

A questão da recusa de assistência médica tem gerado polémica. No domingo, foi revelada nas redes sociais uma conversa “off-the-record” do primeiro-ministro após entrevista ao Expresso na qual António Costa acusa os médicos de “cobardia”, criticando a sua atuação no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz.

“O presidente da ARS [Autoridade Regional de Saúde] mandou para lá os médicos fazer o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram”, disse Costa.

Não tardaria a reação da Ordem dos Médicos, que rejeitou a acusação do primeiro-ministro, a qual considerou “ofensiva”.

“Apesar da falta de condições no lar e no pavilhão para onde mais tarde foram transferidos os doentes, os médicos de família nunca se recusaram a colaborar e continuaram a cuidar e tratar dos idosos doentes, estando o seu trabalho devidamente documentado. Apesar das ignóbeis pressões e ameaças, os médicos não abdicaram de continuar o seu trabalho de cuidar dos doentes nem do dever de denúncia perante as graves insuficiências verificadas no terreno”, retorquiu a Ordem dos Médicos.