A Associação dos Ucranianos em Portugal revela que fez uma denúncia às secretas portuguesas em relação a russos pró-Putin no acolhimento de refugiados após anos de alertas ao Alto Comissariado das Migrações.
"Percebemos que ia ser difícil dentro do Alto Comissariado alterar esta situação e fizemos então a denúncia aos serviços de informação da República Portuguesa", disse o presidente dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadoka, numa audição no parlamento a propósito do caso do acolhimento de refugiados da guerra na Ucrânia na Câmara de Setúbal, alegadamente, por apoiantes do regime russo.
Pavlo Sadoka reiterou que após o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, a associação a que preside começou a receber denúncias que "organizações que o Alto Comissariado reconhece como de ucranianos", mas que são de facto defensoras do regime do presidente russo, Vladimir Putin, estavam a receber refugiados, a quem pediam informações pessoais e relacionadas com familiares que ficaram na Ucrânia.
A Associação dos Ucranianos em Portugal pediu então uma reunião ao Alto Comissariado das Migrações para denunciar a situação, que ocorreu "no início de abril", segundo Pavlo Sadoka.
No encontro, acrescentou, foi-lhes dito que uma das organizações tinha sido retirada da lista de associações reconhecidas pelo Alto Comissariado e que, em relação a outras, como a que está em causa em Setúbal (Edintsvo) a resposta foi: "Vamos ver o que podemos fazer".
Pavlo Sadoka sublinhou que na página na Internet criada pelo Alto Comissariado dedicada ao acolhimento de refugiados da Ucrânia continuavam a constar nomes de pró-Putin como sendo "associações de voluntários ucranianos" disponíveis a apoiar os deslocados da guerra.
Foi nesse momento e contexto que a Associação dos Ucranianos em Portugal avançou com a queixa para os serviços de informação da República portuguesa, contou.
Numa intervenção inicial aos deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos Liberdades e Garantias, Pavlo Sadoka voltou a referir que associações de ucranianos em Portugal alertam desde 2011 o Alto Comissariado das Migrações para os problemas da representação desta comunidade nas instituições portuguesas, nomeadamente, no Conselho das Migrações, em que membros da comunidade russa são reconhecidos como representantes dos ucranianos.
A situação agravou-se desde 2014, após a anexação da Crimeia e a invasão de outras regiões do leste da Ucrânia pela Rússia, com a associação a alertar o Alto Comissariado de que "organizações que apoiam a invasão russa, que reconhecem a anexação da Crimeia pela Federação Russa, não podem representar a comunidade ucraniana", explicou.
"Infelizmente, nada foi feito", afirmou Pavlo Sadoka.
O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal ressalvou que, porém, estão em causa "situações específicas", sem referir qualquer caso concreto, e elogiou o acolhimento de refugiados que Portugal, "como sociedade e como Governo", está a fazer.
"Desde sempre sentimos que Portugal realmente abriu as portas para receber estes ucranianos e sentimos isso todos os dias. [...] Em Portugal, os ucranianos sentem-se seguros", afirmou.
Pavlo Sdoka garantiu também que a Associação dos Ucranianos em Portugal, desde a sua fundação, em 2003, teve "sempre uma colaboração muito boa" com o Alto Comissariado das Migrações, "no sentido de apoiar e acolher imigrantes".
"A questão que colocamos é muito específica, relacionada com a estratégia russa de difundir uma ideologia para justificar a invasão da Ucrânia", realçou, dizendo que o papel da sua associação é alertar os ucranianos que chegam a Portugal para que tenham cuidado porque existem "membros das agências de propaganda pró-Putin" que, como está a acontecer noutros países, estão a atuar no acolhimento a refugiados.
Pavlo Sdoka destacou também que não estão em causa "organizações pró-russas ", mas antes "pró-Putin, aquelas organizações que defendem a política de Putin de invadir a Ucrânia e matar todos os ucranianos".
"Temos aqui em Portugal relações muito boas com a comunidade russa, com representantes dos russos", afirmou.
Pavlo Sdoka disse não ter qualquer dado concreto em relação ao caso de Setúbal, em resposta a perguntas dos deputados de todos os partidos, exceto o PCP, que disse não ter questões a colocar à Associação dos Ucranianos e Portugal.