A greve nos portos portugueses está a ameaçar o abastecimento de bens essenciais e a paralisar importação e exportação. Os alertas são dos empresários, que esta quinta-feira denunciam uma "sangria económica" e pedem ao Govero uma resolução urgente.
Em causa está a paralisação de vários dias, convocada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações Portuárias na semana passada, que se prolonga até 30 de janeiro em vários portos do país.
A Associação Empresarial de Portugal enviou ao Governo, juntamente com outras seis entidades, uma carta onde alerta para os prejuízos que esta greve está a provocar nas empresas e na economia.
Já os trabalhadores, operadores e clientes do Porto de Leixões avisam que as importações e exportações estão já a sofrer bloqueios.
“Os utilizadores dos portos nacionais com maior capacidade já estão a desviar carga para Espanha e para outros portos internacionais”, mas a maioria dos operadores económicos não tem essa possibilidade, por isso estão “neste momento paralisados”, indicam.
O Porto de Leixões, devido às suas características físicas, será um dos piores casos: está em “encerramento total”, sem entrada nem saída de navios.
A situação é confirmada pelo presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, em declarações à Renascença.
“O que está a acontecer é que os navios não estão a carregar nem a descarregar. Alguma desta carga está a ser desviada para Espanha, temos dezenas de navios ao largo em Leixões e nos outros portos do país. No caso de Leixões ainda é mais grave, porque, devido às suas características físicas isto dita o encerramento total do porto, não há entrada nem saída de navios.”
Greve já afeta abastecimento
A Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares avisa que esta paralisação “está a afetar já o fornecimento e consumo de bens essenciais e a trazer prejuízos incalculáveis e duradouros”.
Pior, “o risco de rutura no abastecimento de algumas matérias-primas para alimentação é já uma realidade”, admite a federação.
Em comunicado, a FIPA reconhece o direito à greve, mas sublinha que sem uma rápida solução, está em causa o funcionamento do sector, que depende dos portos do continente e ilhas para receber matérias-primas. Fica também comprometida “a exportação de bens e o cumprimento de prazos de entrega de encomendas”, o que põe em causa as relações comerciais com o exterior.
O presidente da AEP confirma à Renascença que há já empresas a alertar para dificuldades de abastecimento, sobretudo na área agroalimentar.
“Temos empresas nossas associadas de diferentes setores a dizerem-nos que estão a ficar sem matéria-prima. Inclusive, empresas que têm os cereais como matéria-prima dizem-nos que corremos o risco de eles não continuarem a conseguir repor produtos nas prateleiras dos supermercados.”
Pedidos serviços mínimos
Até que se encontre uma solução, é preciso salvaguardar o abastecimento. A FIPA pede que se assegurem de imediato os serviços mínimos, porque “atualmente não comportam a descarga de matéria-prima de bens alimentares essenciais.”
Lembram que durante a pandemia os setores agroalimentar e portuário trabalharam de forma ininterrupta. Querem que este modelo seja retomado, até porque “existem empresas, como as da fileira dos cereais, que têm uma dependência de matérias-primas importadas na ordem dos 80% e uma capacidade de armazenamento reduzida”.
Jorge Henriques, presidente da FIPA, recorda que “é pelo diálogo que têm de ser resolvidas as questões laborais”. As greves “só servem para destabilizar, ainda mais, a economia e sobretudo as empresas, que têm hoje pela frente uma difícil prova de sobrevivência”.
Cabe ao Governo resolver a situação
Perante estes constrangimentos, o presidente da Associação Empresarial admite novo aumento dos preços, nomeadamente, dos bens alimentares.
E se tudo isto não bastasse, avisa ainda que a solução para esta greve nos portos, já anunciada até final de janeiro, depende do Governo. E a tutela é das Infraestruturas, que está agora sem ministro, após a demissão de Pedro Nuno Santos.
Numa carta enviada ao governo, os sete signatários onde se inclui a AEP sublinham que as administrações portuárias não têm autonomia para resolver as questões remuneratórias levantadas pelos sindicatos. Remetem, assim, uma solução para a tutela, que “cortou o contacto com os representantes sindicais” depois de terem fracassado as negociações.
Lembram que “é dever, obrigação e responsabilidade do Governo a correta aplicação das taxas e o bom funcionamento dos portos. Invocar motivos financeiros em empresas públicas excedentárias ao ponto de permitir o seu encerramento é inconcebível”.
Acrescentam ainda que é “urgente garantir a suspensão desta greve e travar a sangria económica que ocorre em todos os portos nacionais”. Apelam, por isso, “ao sentido de responsabilidade e dever das partes para que seja imediatamente retomado o diálogo e encontradas soluções para um problema que é de todos”.
Assinam esta missiva, além da AEP – Associação Empresarial de Portugal, a Comunidade Portuária de Leixões, a Associação Comercial do Porto, a Associação de Agentes de Navegação de Portugal, a Associação Nacional de Empresas Concessionárias de Terminais Portuários, a Associação dos Transitários de Portugal e a Associação de Operadores Portuários de Leixões.