O vídeo do tema-título de "Blackstar"
Quando era miúdo ouvia imensas “covers” do Bowie, mas lá em casa não tínhamos nenhum disco dele. O primeiro álbum que ouvi do Bowie foi o "Let's Dance" (1983), que o meu irmão mais velho comprou quando saiu. Apanhei-o na fase pop, mas depois fui descobrir a carreira para trás. E comprei a compilação "Changes". O disco ficou completamente gasto de tantas vezes que o ouvi.
“Blackstar” surpreendeu-me bastante. Gosto imenso do ambiente e da estética. Aos 69 anos, esta sonoridade assenta mesmo bem no Bowie. Depois de alguns álbuns mais apagados, já não tinha esperança de ouvir outro álbum dele que me surpreendesse. Os últimos álbuns que ouvi do Bowie e com os quais fiquei realmente surpreendido foram “Outside” (1995) e o “Earthling” (1997).
“Blackstar” é um disco inovador: mistura várias sonoridades, jazz, electrónica, experimentalismo. Vai buscar algumas sonoridades do passado dele: “Outside”, pela electrónica, “Diamond Dogs” (1974), pelo saxofone, o “Station to Station” (1976).
Tenho a colecção toda. Comecei a descobrir álbum a álbum. Fiz aquele processo de percorrer as várias fases dele, de tentar entender a cronologia, o que é que liga a quê. E gosto de quase todas as fases. Ele soube sempre reinventar-se. Esteve sempre à frente quase de todos os outros artistas e foi sempre muito inteligente ao envolver-se com músicos originais.
É o caso do Brian Eno, que foi um pioneiro. O Bowie, logo no início, soube relacionar-se e trabalhar com ele. E o Lou Reed e o Iggy Pop, importantíssimos na história do rock'n'roll e com quem o Bowie também teve o prazer de trabalhar.
O Bowie sempre soube trabalhar com as pessoas certas e com artistas interessantes. Mas a escrita acaba por ser sempre dele. É sempre o David Bowie e é sempre a voz dele. São um fio condutor.
A partir de uma conversa com o jornalista Pedro Rios