O Papa Francisco mergulhou esta sexta-feira no coração da pobreza e expôs a “grave dívida social” que o mundo tem “para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável”.
“Negar a água a uma família, sob qualquer pretexto burocrático, é uma grande injustiça, sobretudo quando se lucra com essa necessidade”, sublinhou Francisco, num encontro no bairro pobre de Kangemi, numa intervenção em que fez questão de sublinhar “a sabedoria” que sai dos bairros populares, como os valores da solidariedade e da partilha.
“Dar a vida pelo outro, preferir o nascimento à morte, dar sepultura cristã aos seus mortos; oferecer um lugar para os doentes na própria casa, partilhar o pão com o faminto: “onde comem 10, comem 12”; a paciência e a fortaleza nas grandes adversidades”, descreveu o Papa, perante a comunidade de Kangemi.
Francisco, que à chegada tinha sido acolhido e interpelado por dezenas de pessoas e que demorou o seu tempo a chegar ao púlpito na capela do centro comunitário, voltou a frisar que “cada ser humano é mais importante do que o deus dinheiro”.
“Obrigado por nos lembrardes que há outro tipo de cultura possível”, acrescentou.
O Papa voltou a propor, como na visita apostólica à Bolívia, a consagração do direito efectivo aos “três T”: terra, tecto e trabalho.
“Proponho que se retome a ideia duma respeitosa integração urbana. Nem erradicação nem paternalismo, nem indiferença nem mero confinamento. Precisamos de cidades integradas e para todos. Precisamos de ir além da mera proclamação de direitos que, na prática, não são respeitados”, apontou.
Francisco saiu de Kangemi para um encontro com os jovens no Estádio Kasarani. O Papa despede-se esta tarde do Quénia, país que recebe um Papa pela primeira vez em 20 anos, e segue para o Uganda.
A Renascença em África com o Papa Francisco. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa