Presidente da CIP admite recessão e pede formação em vez de "lay-off" simplificado
25-08-2022 - 09:16
 • Inês Braga Sampaio

António Saraiva defende que a UE deve ter capacidade decisória mais rápida e salienta que, em Portugal, é preciso casar a melhoria da competitividade com a dos salários. Presidente da CIP volta a falar em "lay-off", mas oferece solução paralela.

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) assume que haverá recessão e pede resposta célere de uma Europa de decisões lentas. Internamente, pede soluções imediatas.

Em entrevista ao "Jornal de Negócios", António Saraiva alerta que, com o "cocktail" da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia, que "adultera todas as lógicas", mais a "capacidade decisória muito lenta" da União Europeia (UE), os países europeus estão à mercê dos rigores do inverno.

"Caminhamos de facto para uma recessão. A Alemanha está com graves problemas, Itália está com graves problemas, França é um barril de pólvora porque a questão social é incomportável. De facto, a UE está doente nas suas economias", adverte.

A nível nacional, as empresas "fazem todos os esforços" para manter os recursos humanos, mas a capacidade de suportar os custos do volume da massa salarial "está a atingir limites nalguns casos insuportáveis".

Formação no lugar de "lay-off" simplificado


António Saraiva recorda que a CIP tem solicitado ao Governo, "de há um tempo a esta parte", a retoma do "lay-off" simplificado.

"Temos tido uma resposta que compreendemos. Aquilo que sinalizámos – e que estou esperançado de que o Governo venha a atender, até porque há verbas disponíveis para esse efeito – é uma formação adaptada às empresas e à sua especificidade em que as empresas ao invés de reduzirem o emprego possam nalguns casos de mão de obra excessiva colocar esses trabalhadores em formação própria para a necessidade da empresa", sugere o presidente da confederação empresarial.

"A opção é entre colocar o trabalhador no desemprego ou mantê-lo ativo na empresa, a melhorar as suas competências, e com verbas que apoiem essa necessidade. Ao fim e ao cabo, o país também beneficia."

Acordo de competitividade e rendimentos


Defende ainda um acordo de competitividade e rendimentos antes do Orçamento do Estado (OE), para toda a legislatura.

Para o presidente da CIP, é preciso casar a melhoria da competitividade com a dos salários, pelo que aponta para três indicadores mensuráveis, como a produtividade, a inflação e o crescimento, de modo a dar condições às empresas para atingir esse objetivo.

"Vamos dar-lhe algum horizonte temporal, alguma solidez, com os indicadores de crescimento económico, inflação esperada e projetada, e produtividade. Sendo que a primeira fatia deste acordo terá efeitos em 2023", refere, na mesma entrevista.