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A cimeira sobre proteção de crianças e abusos sexuais na Igreja, que reunirá no Vaticano os presidentes de todas as conferências episcopais de 21 a 24 de fevereiro, é apresentada esta segunda-feira.
Na conferência de imprensa, no Vaticano, vão estar presentes figuras que se têm destacado no trabalho desenvolvido a pedido do Papa Francisco para combater os abusos sexuais na Igreja, entre os quais o arcebispo de Malta e secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé, Charles J. Scicluna.
Charles J. Scicluna foi o enviado do Papa ao Chile no início de 2018 para uma investigação, tendo produzido um relatório que inclui 64 testemunhos e que acabou por desencadear a renúncia em bloco dos bispos chilenos.
O Papa assumiu na altura o compromisso de reparação dos danos e de mudanças na Igreja, as vítimas aplaudiram e as autoridades policiais avançaram com uma investigação que ainda decorre e que já levou à identificação de mais de 200 vítimas.
No encontro desta segunda-feira com os jornalistas estará ainda o arcebispo de Chicago, Blase J. Cupich, o presidente da Fundação Vaticana Joseph Ratzinger - Bento XVI, padre Federico Lombardi, e o presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, padre Hans Zollner.
O escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica foi um dos grandes desafios do Papa em 2018.
O abuso sexual de crianças durante anos e anos chegou a ser classificado pelo secretário do Papa emérito, Bento XVI, como “o 11 de setembro da Igreja Católica”, um momento apocalíptico com incontáveis vítimas.
Os relatos e as notícias de abusos tiveram também impacto na Igreja dos Estados Unidos, onde um relatório de um grande júri da Pensilvânia revelou que pelo menos mil crianças foram vítimas de 300 padres nos últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na adoção de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores.
No sábado, o Vaticano expulsou do sacerdócio o ex-cardeal e arcebispo emérito de Washington Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais de menores e seminaristas.
A expulsão surgiu na sequência de uma investigação ordenada pelo Papa Francisco, tendo a Congregação para a Doutrina da Fé imposto a McCarrick a redução ao estado laico.
Os casos estendem-se ainda a países como a Alemanha, Irlanda, Holanda, Austrália, França e Espanha.
Na Alemanha, um relatório interno encomendado pela Conferência Episcopal alemã aponta para 3.677 casos de abusos sexuais cometidos por 1.670 elementos da Igreja Católica entre 1946 e 2014 e na Holanda pelo menos 20 bispos e cardeais holandeses foram associados a abusos sexuais.
Na Austrália, o cardeal George Pell, que dirigia a Secretaria da Economia do Vaticano, foi considerado culpado por um tribunal em Melbourne de abuso sexual de duas crianças.
Em agosto, a poucos dias de uma visita à Irlanda, o Papa escreveu a todos os católicos do mundo, condenando o crime de abuso sexual por parte de padres e exigindo responsabilidades.
Na carta, o Papa Francisco pediu perdão pela dor sofrida e disse que os leigos católicos devem envolver-se na luta para erradicar o abuso e o seu encobrimento.
Na Irlanda, o Papa Francisco encontrou-se com vítimas de abusos sexuais e lamentou a forma como a Igreja irlandesa respondeu aos crimes.
Mais de 14.500 pessoas declararam-se vítimas de abuso sexual por parte de padres e a hierarquia da Igreja irlandesa é acusada de ter encoberto centenas de sacerdotes.
A 12 de setembro, Francisco decidiu marcar uma cimeira sobre os abusos sexuais na Igreja, convocando os presidentes de todas as conferências episcopais.
O anúncio foi feito no seguimento de um encontro do "C9", o grupo de cardeais que aconselha o Papa sobre a reforma das estruturas da Igreja.