O presidente da Rede Europeia Anti Pobreza (REAP), padre Jardim Moreira, lembra que "a pobreza não é uma fatalidade" e, se existe, é porque não há "intervenção estrutural".
"A pobreza não é uma fatalidade. A pobreza é uma conclusão de opções políticas", diz à Renascença o padre Jardim Moreira, numa reacção ao relatório da OCDE sobre mobilidade social, divulgado esta sexta-feira.
"Temos a consciência de que a pobreza hereditária tem esse efeito de se prolongar e multiplicar e isso acontece na medida em que temos uma tradição social e política de não intervir nas estruturas geradoras da pobreza para a eliminar através de uma intervenção estrutural”, acrescenta o sacerdote.
Jardim Moreira sublinha que "a pobreza não se resolve com pequenas ajudas ou pequenas esmolas" e em Portugal, "mesmo depois do 25 de abril, as politicas sociais relativamente à pobreza não foram alteradas".
O presidente da REAP é também pároco, há várias décadas, de São Nicolau e Vitória, no Porto, e considera que, além de resultado de "opções politicas", a pobreza é também um efeito de atitudes "religiosas".
"Infelizmente, tenho dificuldade em ver que os responsáveis das comunidades
cristãs empenharem-se de uma forma ativa na dignificação fraterna dos seus
membros que estão mais excluídos. O Papa apela, constantemente, para olharmos
para as periferias, mas, se calhar, vamos lá e voltamos ao nosso conforto. É
preciso tirar as pessoas das periferias, ou seja, da sua indignidade, e
dar-lhes a possibilidade para que elas vivam em família e na grande comunhão
cristã", remata o padre Jardim Moreira.