Octávio e Matilde estão a chegar a casa, na aldeia do Carregal, concelho de Chaves. Vêm do pequeno souto onde andaram ao rebusco. Ele carrega nas costas um saco com meia dúzia de castanhas e ela traz no braço um balde vazio. Nos rostos têm estampada a tristeza de não terem colhido na medida do trabalho e dos investimentos realizados.
A seca severa e extrema que se vive no país afectou em muito as suas culturas agrícolas e deixou o casal praticamente sem rendimentos para o ano.
“A seca deu cabo de tudo. Castanha não há quase nada e as que há são fracas e muito estaladas. Foi um ano muito seco”, diz Octávio à Renascença.
O casal vive “das castanhas e de alguma batata, mas a batata também está de rastos e o centeio, além de pouco, não dá dinheiro”. O rendimento para o ano não é nenhum, “nem a terça parte do ano anterior”, confidencia o agricultor de 66 anos.
“É como ele está a dizer, vai ser muito difícil. A gente fazia pouco, mas lá ia fazendo alguma coisa. Assim não dá”, atalha Matilde, que aos 63 anos apresenta vários problemas de saúde e já pouco faz no campo.
O ano passado o casal, só em castanha, fez mais de 1.500 mil euros. Mas agora dava-se por “contente se chegasse aos 500, mas não chega lá”.
Como vão viver? Octávio diz que vai ser “necessário apertar o cinto” e revela temer o Inverno, “até por causa das constipações que levam dinheiro”, porque “não há para os medicamentos”.
Matilde diz que vai ser muito difícil aguentar o ano. “A gente já não se podia alargar muito, mas este ano ainda menos, porque onde houver dinheiro, há mais fartura”.
O casal tem dois filhos, mas não vê aí uma possibilidade de ajuda porque “eles também têm que levar a vidinha deles”.
“Este ano ficou tudo de rastos”
A ajuda que pede é ao Estado porque “os agricultores vivem pobres”. “Trabalha-se muito e chega-se ao fim do ano e a gente não tem resultados. Vêm estes tempos tolhem tudo”.
“Este ano ficou tudo de rastos. Não houve castanha, não houve batata, não houve nada”, lamenta.
Como o casal Octávio e Matilde há muitos outros que viram as culturas destruídas ou afectadas pela seca. Antevêem dificuldades para fazerem face às despesas ao longo do ano, mas, “até ao momento, não pediram ajuda à Cáritas de Vila Real”, diz o presidente da instituição, Henrique Oliveira, à Renascença.
Se esses pedidos vierem a surgir, a instituição da Igreja pondera ajudar, embora admita não ter “resposta no imediato para dar”.
“Temos que procurar parcerias e articular com outras instituições”, diz Henrique Oliveira.
A severidade da seca, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), regista um agravamento no mês de Outubro.
De acordo com o boletim climatológico disponível na página da internet do IPMA, “todo o território de Portugal continental encontrava-se, em Outubro, em situação de seca severa (24,8%) e seca extrema (75,2%)”.
O Boletim do IPMA refere ainda que o mês passado “foi extremamente seco e excepcionalmente quente”, acrescentando que foi o mês de Outubro “mais seco dos últimos 20 anos e o mais quente dos últimos 87 anos”.