Estão espalhados por Nova Deli vários cartazes. Nuns Marcelo Rebelo de Sousa aparece sozinho, sob um fundo laranja e uma espécie de halo, um disco solar atrás da cabeça, e a inscrição em hindi e em português: "Bem-vindo."
A capital indiana vestiu-se a rigor para receber o Presidente da República portuguesa, que esta quinta-feira aterrou na Índia para uma visita de quatro dias ao país, no âmbito da qual irá ainda visitar Goa e Bombaim.
À chegada, Marcelo traçou objetivos de aumentar as trocas económicas entre os dois países, falando de uma nova fase nas relações bilaterais face ao crescente interesse do gigante económico (é já a quinta maior economia mundial) em Portugal.
Aos jornalistas que o acompanham, o Presidente não fugiu a um outro tema, mais sensível, sobre as crescentes críticas ao chefe do Governo indiano e ao seu nacionalismo. É ao lado dele, de seu nome Narendra Modi, que Marcelo aparece em outros tantos cartazes que foram espalhados por Nova Deli para o receber nesta visita oficial, a terceira por um Presidente português em funções.
Confrontado com o nacionalismo crescente de Modi e as suas posições contra minorias étnico-religiosas, desde logo a muçulmana, o Presidente garantiu que perspetivas "comuns", como a defesa dos direitos humanos ou a defesa do direito internacional, não deixarão de ser reafirmadas durante a sua estadia.
"Eu normalmente não comento problemas da política interna dos países que visito", começou por dizer. "Mas no plano das relações multilaterais, nós temos conjugado esforços permanentemente, a nível governamental como a nível das chefias de Estado, para prosseguir certas perspetivas que são comuns, como seja o multilateralismo, como seja a defesa dos direitos humanos, como seja a consagração do direito internacional, como seja a afirmação do primado da dignidade das pessoas. Temos estado juntos, Índia e Portugal, na afirmação desses princípios, que não deixarão de ser reafirmados pelos dois países durante esta visita."
Uma visita "mais executiva"
Marcelo Rebelo de Sousa, que é o terceiro Presidente a visitar a Índia, diz que depois de Mário Soares, que cimentou as relações diplomáticas entre os dois países, e de Cavaco Silva, que reforçou a cooperação, esta é uma visita para executar.
"Projetos concretos com avanços concretos, é esse o objetivo desta visita", declarou no hotel de Nova Deli logo após a chegada. "Esta é uma fase mais executiva, mais virada para o concreto, para a cooperação económica e financeira, para a cooperação científica e tecnológica. Há acordos que vão ser celebrados", garantiu.
Sem esquecer o trabalho feito nestes últimos quatro anos pelo Governo português, o Presidente salientou que quer trazer mais Portugal para a Índia, levar mais investimento indiano para Portugal e, de caminho, aproveitar para reforçar a importância de este país se tornar membro observador da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), algo que, apontou Marcelo, será concretizado na próxima cimeira da organização, marcada para setembro em Luanda.
"Esta visita de Estado à Índia representa uma terceira fase no relacionamento entre os dois países no quadro das duas democracias", com "objetivos muito concretos", no seguimento das visitas recíprocas dos primeiros-ministros António Costa e Narendra Modi desde 2017, acrescentou.
"São objetivos muito focados na presença da Índia em Portugal, na economia, na sociedade e na cultura portuguesas, e na presença de Portugal também aqui na economia, na sociedade e no mundo cultural da Índia. Nesse sentido, penso que há passos que foram sendo dados nos últimos quatro anos que poderão conhecer nesta visita uma continuação, e que prosseguirá até à presidência portuguesa da União Europeia [no primeiro semestre de 2021]."