A Unicef diz ser urgente acabar com o “preconceito” e com o “desconhecimento” em torno do papel das famílias de acolhimento.
A posição é expressa à Renascença por José Proença, especialista em proteção infantil da delegação portuguesa do Fundo das Nações Unidas para a Infância que, esta quinta-feira, coloca Portugal como o país com mais crianças institucionalizadas entre 42 países da Europa e da Ásia Central.
“Por um lado, não existe uma cultura de acolhimento familiar cimentada em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países”, constata o porta-voz da Unicef Portugal, que atribui o fenómeno ao “preconceito ou a algum desconhecimento sobre a situação do acolhimento em Portugal, do que é que motiva esta retirada às famílias, de qual é o papel de uma família de acolhimento”.
Outro dos problemas é a falta de “investimento de forma consistente e com a devida urgência na divulgação e na captação de famílias de acolhimento”, à semelhança do que aconteceu, a título excecional, em fevereiro de 2022, quando começou a guerra na Ucrânia.
Nessa altura, lembra José Proença, "Portugal rapidamente montou uma resposta de urgência de acolhimento familiar e conseguiu captar num curto espaço de tempo, um número muito significativo de famílias de acolhimento”.
Perante o cenário revelado no levantamento da Unicef, Proença apela a uma transposição da resposta em emergência para o quotidiano.
"Não podemos esperar muitos mais anos para ter um número de famílias de acolhimento suficiente para responder ao número elevado de crianças que entram anualmente no sistema. E uma das possibilidades é um plano específico de urgência sem pôr em causa a qualidade e a capacitação das famílias para o fazer”, avisa.
Questionado sobre as reticências das famílias, nomeadamente as que têm menos possibilidades económico-financeiras, o porta-voz da Unicef diz que isso não deve servir de argumento para não acolher.
“Existe a possibilidade de tirar uma licença semelhante àquelas que existem quando se tem um filho; existe um apoio económico mensal para apoiar o acolhimento; existe um acompanhamento técnico regular e de proximidade, que permite abordar eventuais problemas que possam surgir, tanto na relação com a criança, como na relação com a família biológica”, esclarece.