Tanques israelitas regressaram esta terça-feira a partes do norte da Faixa de Gaza, de onde tinham saído há algumas semanas, enquanto caças de Israel fizeram ataques aéreos em Rafah, o último refúgio dos palestinianos no sul do território, matando e ferindo várias pessoas, disseram médicos e residentes.
Moradores relataram uma quebra na internet nas áreas de Beit Hanoun e Jabalia, no norte de Gaza. Os tanques avançaram para Beit Hanoun e cercaram algumas escolas onde famílias deslocadas estão refugiadas, disseram residentes e os meios de comunicação do grupo militante palestino Hamas.
“Os soldados da ocupação ordenaram que todas as famílias que estavam nas escolas e nas casas próximas, onde os tanques avançaram, evacuassem. Os soldados detiveram muitos homens”, disse um residente do norte de Gaza à Reuters, através de uma aplicação de conversas.
Beit Hanoun, onde vivem 60 mil pessoas, foi uma das primeiras áreas alvo da ofensiva terrestre de Israel em Gaza, em outubro passado. Os pesados bombardeamentos transformaram a maior parte de Beit Hanoun, outrora conhecida como “o cesto de frutas” devido aos seus pomares, numa cidade fantasma composta por pilhas de escombros.
Muitas famílias que regressaram a Beit Hanoun e Jabalia nas últimas semanas, após a retirada das forças israelitas, começaram a mudar-se novamente na terça-feira devido ao novo ataque, disseram alguns residentes.
As autoridades de saúde locais disseram que um ataque israelita matou quatro pessoas e feriu várias outras em Rafah, onde mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão abrigados e a preparar-se para uma ofensiva terrestre israelita na cidade, que faz fronteira com o Egito.
Pouco antes da meia-noite, um ataque aéreo israelita atingiu uma casa em Rafah e matou sete pessoas, incluindo crianças, e feriu várias outras, disseram autoridades de saúde palestinianas. Não houve comentários israelenses imediatos.
Responsáveis das autoridades de saúde palestinianas e a comunicação do Hamas disseram que outro ataque aéreo israelita também matou 11 palestinos, incluindo crianças, no campo de refugiados de Al-Maghazi, no centro da Faixa de Gaza. As Forças Armadas israelitas não responderam imediatamente a um pedido de comentários da Reuters.
“Os meus irmãos estavam sentados perto da porta, o meu irmão estava ferido, e o primo dele também, e eu perdi meu filho, não tenho casa, nem marido, nem nada”, afirmou Wafaa Issa al-Nouri, cujo filho Mohammad e seu marido foram mortos no ataque.
“Ele estava a brincar à porta, não fizemos nada, juro que não fizemos nada”, disse ela.
O Ministério do Interior administrado pelo Hamas também disse que um ataque aéreo israelense atingiu um carro da polícia no distrito de Tuffah, na cidade de Gaza, matando sete policiais.
Israel alega auto-defesa
Após seis meses de combates, ainda não há sinais de qualquer avanço nas negociações apoiadas pelos EUA, lideradas pelo Qatar e pelo Egipto, para fechar um acordo de cessar-fogo em Gaza, enquanto Israel e o Hamas mantêm condições mutuamente irreconciliáveis.
As forças israelitas afirmam que continuaram a operar no centro da Faixa de Gaza e que mataram vários homens armados que tentaram atacá-los.
“Além disso, no último dia, caças e aeronaves das FDI destruíram um lançador de mísseis juntamente com dezenas de infraestruturas terroristas, túneis terroristas e complexos militares onde terroristas armados do Hamas estavam localizados”, acrescentaram.
No campo de refugiados de Al-Nusseirat, no centro da Faixa de Gaza, moradores disseram que aviões israelitas bombardearam e destruíram quatro edifícios residenciais de vários andares na terça-feira.
Israel ainda impõe restrições “ilegais” à ajuda humanitária a Gaza, segundo o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos da ONU, apesar de afirmações de Israel e de outros países de que as barreiras foram atenuadas.
A quantidade de ajuda que entra atualmente em Gaza é contestada, com Israel e Washington a dizerem que os fluxos de ajuda aumentaram nos últimos dias. Contudo, as agências da ONU afirmam que essa ajuda ainda está muito abaixo dos níveis mínimos.
Israel está sob pressão internacional para permitir mais ajuda a Gaza, especialmente às zonas do norte, onde é esperada a fome em maio, segundo as Nações Unidas.
Os militares de Israel disseram que facilitaram a entrada de 126 caminhões vindos do sul no norte de Gaza na noite de segunda-feira.
O exército declarou também que estava a trabalhar em colaboração com o Programa Alimentar Mundial para facilitar a abertura de mais duas padarias no norte de Gaza, depois de umaa primeira ter começado a funcionar na segunda-feira.
Segundo o Ministério da Saúde palestiniano, mais de 33 mil palestinos foram mortos por Israel desde 7 de outubro, incluindo 46 nas últimas 24 horas.
Israel lançou uma ofensiva em Gaza depois de militantes do grupo Hamas, que governa o território, atacarem Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e fazendo 253 reféns.