Foi uma loucura confiar assim em Deus, ao ponto de sacrificar o seu filho único concebido já na velhice. Atitude prudente e razoável seria exatamente o oposto: proteger o que tinha de mais precioso, nos poucos anos de vida que ainda lhe restavam.
Mas a fé de Abraão em Deus era tão inabalável, que nunca duvidou do Seu desígnio de amor e arriscou tudo.
A consequência foi que Deus, não só lhe poupou o filho, como lhe prometeu ser pai de uma descendência incontável como as estrelas do céu.
Francisco faz o mesmo. Contra toda a razoabilidade e face aos sérios riscos de segurança e saúde que esta viagem ao Iraque implica, também nele, o amor de Deus surge em primeiro lugar.
Por isso, arrisca tudo e vai “ao berço da civilização”, à terra de Abraão, pai das três religiões monoteístas, “como peregrino penitente para implorar ao Senhor o perdão e a reconciliação depois de tantos anos de guerra e de terrorismo”.
Como explicou na mensagem vídeo que antecede a sua chegada, vai ao Iraque “pedir a Deus a consolação dos corações e a cura das feridas” e vai “como peregrino de paz para repetir Vós sois todos irmãos”.
Claro que a missão de Francisco é desmesurada face às suas forças humanas. O mesmo terá pensado Abraão, quase aos 100 anos.
Mas o segredo destes dois homens não é exclusivo deles, nem é inacessível, porque é também vivido por gerações sucessivas de judeus, cristãos e muçulmanos que confiam no Deus único que lhes dá força e orienta o caminho.
O Patriarca dos caldeus, cardeal Louis Sako, declarou a uma agência ter encontrado na catedral de Bagdad uma mulher muçulmana a rezar diante da Imagem de Nossa Senhora e que esta que lhe disse: “Graças a Deus que o Papa vem. Esta visita é uma esperança para os iraquianos”.
Ao mesmo tempo, em Roma, Francisco foi à basílica de Santa Maria Maior para confiar a Deus, através de Maria, esta próxima viagem. É assim que acontece, hoje como no tempo de Abraão. Porque a Deus nada é impossível.