O número de idosos que vive em privação material aumentou entre 2013 e 2014, atingindo um em cada quatro, revela o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em 2013, a taxa do risco de pobreza é de 25,9% da população. Ou seja, quase 2,7 milhões de portugueses vive com sérias dificuldades económicas. Neste grupo, há ainda 10,6% em situação de privação material severa, não se registando alterações significativas face ao ano anterior, refere o inquérito, divulgado a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala no sábado.
Segundo o inquérito, realizado em 2014 sobre os rendimentos de 2013 das famílias residentes em Portugal, "a proporção mais elevada de pessoas em privação material" encontrava-se no ano passado no grupo dos menores de 18 anos (27,4%), situação já observada nos anos anteriores.
Contudo, foi sobretudo a proporção de idosos em privação material a que mais aumentou entre 2013 e 2014 (de 23,1% para 25,2%)".
Portugal é também um país mais desigual, segundo os dados do INE. Segundo o coeficiente de Gini, o rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com maiores recursos era 11,1 vezes superior ao rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com menores recursos (era 10,7 vezes em 2011 e 9,4 vezes em 2010).
Cinco milhões em risco de pobreza sem transferências sociais
Aumentou o contributo das transferências sociais para a redução do risco de pobreza. Considerando apenas os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, 47,8% da população residente em Portugal estaria em risco de pobreza em 2013. Ou seja, cerca de cinco milhões de portugueses.
Os rendimentos provenientes de pensões de reforma e sobrevivência contribuíram em 2013 para um decréscimo de 21,0 p.p. do risco de pobreza, resultando assim numa taxa de risco de pobreza após pensões e antes de transferências sociais de 26,7%.
Sem capacidade para pagar despesas de saúde
Cerca de 70% das pessoas em risco de pobreza e em privação material não têm capacidade financeira para realizar exames e tratamentos médicos.
"O acesso aos cuidados de saúde constitui uma variável importante para a avaliação da inclusão social e bem-estar das pessoas", refere o inquérito.
Segundo os dados, em 2014, 5,5% da população com 16 ou mais anos referiu que, em pelo menos uma ocasião, necessitou de cuidados médicos e não os recebeu, e 18,8% necessitou de cuidados dentários e não os recebeu.
A falta de disponibilidade financeira foi a principal razão apontada para a não realização dos exames e tratamentos médicos ou dentários necessários, o que atinge particularmente as pessoas em situação de maior vulnerabilidade.