A candidatura da cidade de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027 quer distinguir-se pela "forte identidade cultural alentejana", por isso está a convocar toda a região para a sua construção.
“Queremos que esta candidatura se reconheça em Évora, em Beja, em Portalegre, no litoral alentejano, e que cada um desses territórios possa dar o seu contributo, participando com a sua diversidade”, afirmou Carlos Pinto de Sá, presidente da Câmara Municipal de Évora, na apresentação da candidatura da cidade, na Torre do Salvador.
“No centro da candidatura vai estar um projeto cultural, mas queremos que extravase a cultura e vá, por exemplo, ao ambiente, à sustentabilidade, à ligação do homem com meio, mas também à educação, à economia ou às questões sociais”, indica o autarca, tendo como ideia fundamental “o homem no centro do projeto”.
A abrangência e a participação são, assim, aspetos relevantes que definem o projeto que vai sair do Alentejo. “Estamos aqui para vos dizer que esta candidatura está em construção e queremos que todos, no Alentejo, participem. Não vamos bater à porta das pessoas e dizer que está aqui o projeto da Capital Europeia da Cultura. Vamos abrir a porta da Torre do Salvador e dizer, venham até nós, apresentem ideias, apresentem propostas e construam connosco esta candidatura.”
Consciente de que o processo não vai agradar “a gregos e a troianos”, Carlos Pinto de Sá pede a todos, particulares ou instituições, que tenham “a capacidade de pôr em comum aquilo que pode servir o Alentejo”, para que se possa criar um projeto baseado na cultura, mas que “vá além dela” e possa “servir o futuro e o desenvolvimento” de toda a região.
“Por isso esta nossa candidatura, não é para pendurar na lapela, o titulo Capital Europeia da Cultura, isso é prestigiante, mas o que é mais importante para nós, é que este projeto seja um protejo estruturante para o Alentejo e que vá além de 2027 e deixe um legado às populações e ao nosso território”, acrescenta o presidente do município eborense.
“Não estamos num ponto de chegada, mas num ponto de partida para a sua construção”, daí a abertura da candidatura a todos, que “queremos, nos una em torno do Alentejo.”
O autarca acredita que “isto é possível” e que pode levar “a uma transformação do Alentejo no sentido humanista”, uma das marcas da região. “Com o Alentejo no coração, vamos contruir esta candidatura”, apesar das limitações provocadas pela pandemia.
Já sobre as outras candidaturas a Capital Europeia da Cultura, o presidente do município de Évora garante que “trabalham em conjunto” para definir questões comuns a todas, e que não as considera “candidaturas concorrentes”.
“Anda, Acreditando” propõe “construção de voz comum”
A primeira fase da candidatura tem como lema “Anda, Acreditando”, e apela à participação “comprometida e ativa” da sociedade civil na sua construção.
“É um desígnio desta equipa, por isso, muito em breve daremos início à promoção de um amplo processo participativo que consistirá na realização de um conjunto de encontros que acontecerão em vários municípios do Alentejo Central e que será coordenado pela Universidade de Évora”, revela a coordenadora da equipa de missão, Paula Mota Garcia.
Uma proposta que passa, segundo a responsável, pela “valorização da palavra na sua tradução oral e escrita, enquanto expressão da riqueza cultural”, assim como “a promoção de diversidade linguística no contexto europeu.”
“Anda, Acreditando”, um lema que vai evoluindo tal como a imagem visual, sugere “a construção de uma voz comum, que cresce de porta em porta”, reivindicando “um desígnio coletivo”, que se consubstancia numa “voz polifónica que cresce de Évora, do Alentejo para o resto do país, para a Europa e restantes continentes”, acrescenta a coordenadora da equipa de missão da candidatura, também, ciente dos desafios colocados pelo tempo que se vive.
“Estamos conscientes da missão hercúlea desta candidatura, sobretudo atendendo ao contexto frágil e intermitente que vivemos”, afiança, porém, “temos a convicção de que é estando permanentemente em busca e à escuta das tantas vozes que fazem o território, que promoveremos um processo cúmplice, comprometido e estruturante, e que mais facilmente ultrapassaremos as pedras que vamos encontrando pelo caminho.”
Paula Garcia mudou-se para Évora em março deste ano, deixando a direção do Teatro Viriato, em Viseu, onde estava desde janeiro de 2017, um projeto com o qual colaborou nas ultimas duas décadas.
“O Alentejo desafia-nos e é preciso estar no Alentejo para se perceber o que ele é, verdadeiramente”, refere a responsável, a propósito da sua mudança para a região, admitindo, por outro lado, que “a cultura alentejana faz a diferença por estar muito preservada, e isso é um recurso bastante importante na candidatura.”
O projeto Capitais Europeias da Cultura
Além do município, a Comissão Executiva é constituída pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, a Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo, a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, a Direção Regional de Cultura do Alentejo, a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Alentejo, Fundação Eugénio de Almeida e ainda a Universidade de Évora.
A Equipa de Missão, que já tinha iniciado a atividade, pode, finalmente, depois de reunidas as condições de segurança por causa da Covid-19, instalar-se na sede de candidatura, na Torre do Salvador, em pleno centro histórico de Évora.
A designação anual de capitais europeias da cultura é uma das ações mais emblemáticas da União Europeia, cuja origem remonta a 1985, com a finalidade de colocar as cidades no centro da vida cultural em toda a Europa.
As cidades são selecionadas com base num programa cultural que deve ter uma forte dimensão europeia, fomentar a participação e o envolvimento ativo dos habitantes e contribuir para o seu desenvolvimento urbano. Pretende- se, através da cultura e da arte, promover a qualidade de vida nas cidades e fortalecer o seu sentido de pertença a um espaço cultural comum de cidadania europeia.
Em 2027, o título de Capital Europeia da Cultura vai ser atribuído a duas cidades, uma portuguesa e uma letã.
Neste mês de novembro, o Ministério da Cultura deverá publicar um Aviso de Concurso Nacional, de acordo com o estabelecido pela Comissão Europeia. As cidades interessadas em concorrer terão, aproximadamente, um ano para responder, formalmente, através da apresentação de um documento designado de “BidBook” e que implicará um processo de reflexão sobre o papel da cultura na estratégia de desenvolvimento da cidade.
Em meados de 2022, será publicada a lista das cidades, que serão, então, convidadas a aprofundar as suas propostas atendendo a um conjunto de recomendações. O resultado final do júri será conhecido entre o final de 2022 e o início de 2023.