Um manto de sedimentos produzidos por incêndios está a cobrir por completo uma parte do leito do rio Zêzere. As primeiras grandes chuvas após os grandes fogos de agosto estão a causar a acumulação de cinzas.
Em declarações à Renascença, José Prata, morador em Orjais, no concelho da Covilhã, descreve um cenário assustador junto ao rio, após o temporal registado esta terça-feira de manhã.
"Ouvi um barulho que parecia uma trovoada enorme, um dilúvio mesmo. Uma coisa estonteante! Começo a ver aquelas águas a saltar, parecia que tinha rebentado uma barragem", relata José Prata, que filmou a torrente de água negra num ribeiro afluente do rio Zêzere.
O habitante de Orjais deslocou-se depois ao rio Zêzere, que fica muito perto, e constatou que as águas também estavam tingidas de negro pelas cinzas dos incêndios.
Estes sedimentos contribuem para que haja uma pior qualidade da água e para a existência de fenómenos de eutrofização.
A eutrofização é um fenómeno que ocorre como consequência do aumento da quantidade de nutrientes no ambiente aquático. O fenómeno leva a uma série de complicações, nomeadamente dificuldades no trânsito de embarcações, elevação nos custos de tratamento da água para abastecimento da população e menores habitats para as espécies.
Estes eventos ocorrem devido à erosão causada pelos incêndios, os solos tornam-se impermeáveis e incapazes de reter a água das chuvas. O norte e centro do país são as regiões mais afetadas por incêndios e consequentemente com maior risco de erosão.
Além da contaminação dos rios, a erosão provocada pelos fogos florestais pode originar cheias rápidas.
A queda da chuva vai diretamente para o solo e, por isso, a taxa de infiltração é rapidamente saciada e todos esses sedimentos são arrastados à superfície das encostas.