Insuficientes e atrasados. É desta forma que o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE), classifica os apoios do Ministério da Cultura para responder à crise criada pela pandemia de Covid-19.
Na última semana, a tutela avançou com abertura da linha para trabalhadores independentes, com um teto máximo de 34,3 milhões de euros. Seguem-se as entidades artísticas, com três milhões de dotação e o apoio à adaptação dos espaços às medidas de prevenção de contágio, no valor de 750 mil euros – com candidaturas até 4 de setembro.
Rui Galveias, da direção do Cena-STE, considera que não vai ser suficiente. “Estes apoios vêm da mesma forma que os anteriores: atrasados, insuficientes, disfarçados de apoios que não são concursos mas são concursos", diz à Renascença.
O sindicalista dá um exemplo: "o apoio máximo de dois mil euros para adaptação das salas vem por ordem de chegada, quem preencher primeiro o impresso ganha".
Rui Galveias pede um apoio mais transversal e com maior impacto no horizonte temporal do setor.
"Nós precisamos de um apoio que chegue a toda a gente e que olhe para o setor de forma diferente. Um dos problemas é que se olha para o setor a partir do Ministério da Cultura e o setor vai muito mais longe do que isso; são empresas de muito diversas naturezas e características que têm os trabalhadores numa situação desgraçada".
O sindicalista não consegue apontar um valor capaz de dar resposta aos problemas. “Não tenho um número, não tenho como quantificar. Por isso é que defendemos que o apoio social de emergência devia ser transversal e sem um limite de fundos. É óbvio que tem de ser sério, mas quando olhamos para o que está a acontecer, tem de ser uma coisa que garanta que os profissionais existam no ano que vem”.
Sobre o regresso dos espetáculos condicionados pelas regras sanitárias, Rui Galveias sublinha que o setor vive de "atos de coragem".
"No trabalho mais comercial, não há forma de compensar. As salas sempre trabalharam no limite. Existe falta de hábito de comprar bilhetes. As salas não são auto-suficientes. No trabalho apoiado pela DGArtes, da criação de teatro, dança, aí nem há hipótese. Se os valores já eram insuficientes, agora não chegam. Estamos a falar só de prejuízo. Manter os espetáculos é um ato de coragem", afirma.
Rui Galveias diz que, apesar de este mês o setor estar a voltar lentamente ao trabalho, este é insuficiente – e com o inverno vem a incerteza.
“Neste momento, há alguns espetáculos a acontecer, mas há algum receio do público. Nós, que fazemos os espetáculos, já estamos preparados para o fazer, mas isso implica meios, público, condições e salas com escala para o fazer. Já se veem alguns espetáculos ao ar livre, mas é insuficiente".
"Passamos de centenas de espetáculos, todos os dias, em Portugal, para umas dezenas no mês de agosto. É aterrador", remata.