Os desafios que os temas da sustentabilidade provocam ao nível da atuação das empresas no mercado são por demais evidentes e são já poucos aqueles que entendem que é possível ter êxito sem este tipo de preocupação.
O “trilema” "profit, planet, people" (lucro, planeta, pessoas) só tem uma forma de ser entendido e resolvido: se é óbvio que sem "profit" não haverá nunca preocupações "planet & people", o que é ainda mais obvio é que sem preocupações "planet & people" dificilmente haverá "profit".
E esta realidade vai chegando muito rapidamente a todas as dimensões empresariais. Até hoje parecia preocupação apenas para as grandes empresas, mas lidar com estes desafios é uma realidade que se impõe cada vez mais também às Pequenas e Medias Empresas (PMEs).
As PMEs, na minha opinião, têm aqui uma oportunidade de criação de vantagem competitiva que as grandes empresas já dificilmente encontram. Nestas, o espaço para concorrer através de posicionamentos mais sustentáveis está já muito ocupado, e em muitas situações estamos já em “território” de licença para operar. Há 15 anos quando empresas como Unilever, IKEA e algumas outras começaram a ocupar esse espaço, a criação de vantagem competitiva foi possível, e muitas delas estão hoje a beneficiar desse “business case for action” onde o seu posicionamento permitiu fidelização de clientes e crescimento de negócio. Hoje, competir nessa dimensão é difícil e exige níveis de criatividade e investimento significativos.
O mesmo não é verdade para as PMEs (sobretudo a operar no mercado português) onde eu diria que o espaço está todo por ocupar. Acredito profundamente que as PMEs que sejam agora capazes de posicionar a sustentabilidade no centro da sua estratégia de negócio terão a oportunidade de criar uma vantagem competitiva que as grandes já dificilmente encontram.
Para muitas delas, competir por preço é inegavelmente o único caminho que se vêm obrigadas a trilhar. E a má noticia é que isso não vai mudar, vão ter de o continuar a fazer.
Só que “em cima” disso aparece agora este caminho que vão também ter de traçar – quer porque legislação europeia cada vez mais exigente as vai obrigar, quer porque nem sequer poderão participar em cadeias de abastecimento de grandes empresas que isso lhes vão exigir.
Pelo que, na minha opinião, só há uma estratégia consistente e duradoura de sucesso: entender definitivamente que o tema de se ser mais responsável ambiental e socialmente é uma oportunidade e não uma ameaça.
Esqueçam a ameaça, porque é bem mais do que isso – é uma realidade. E vejam estes desafios como oportunidades de negócio que, nesta fase e por oposição às grandes empresas, ainda se afigura como um espaço de competitividade por ocupar. Há já várias histórias de êxito de PMEs em Portugal e que provam que é possível trilhar esse caminho.
Nuno Moreira da Cruz é Professor da Católica Lisbon School of Business & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics