Amaro Antunes, vencedor de três Voltas a Portugal, anunciou, esta segunda-feira, o final "imediato" da carreira, num comunicado enviado à Lusa, em que justifica o adeus ao ciclismo, aos 32 anos, com a perda de motivação e gosto pelo treino.
"Anuncio que decidi, após longa ponderação, deixar o ciclismo profissional, que abracei há 11 anos, com efeito imediato. Na primavera passada, o falecimento precoce da minha mãe e o processo crime 'Prova Limpa' [...] conduziram a que perdesse toda a motivação e o gosto pelo treino, indispensáveis para enfrentar mais uma época na plenitude das minhas capacidades", explica.
Único dos 11 ciclistas da W52-FC Porto que não foi suspenso ou constituído arguido no âmbito da operação "Prova Limpa" - os seus colegas foram acusados pelo Ministério Público (MP) de tráfico de substâncias e métodos proibidos -, Antunes sublinha que o seu processo foi arquivado.
"Mesmo que a despedida não seja da forma que tinha idealizado, olho para a minha carreira com orgulho. Trabalhei no duro, com muita paixão e prazer, e conquistei resultados assinaláveis, quer em Portugal quer no escalão máximo do WorldTour", recorda.
Muitas vitórias de azul e branco no CV
O algarvio despede-se do ciclismo com três vitórias na Volta a Portugal no currículo, nas edições de 2021, 2020 e 2017, esta "herdada" devido à desclassificação por doping do vencedor, o seu companheiro espanhol Raúl Alarcón.
Com as cores da W52-FC Porto, venceu ainda a etapa "rainha" da Volta ao Algarve de 2017, no alto do Malhão, local habitual dos seus treinos, numa edição em que foi quinto classificado na geral final.
Foi pelos dragões que conquistou os maiores triunfos de uma carreira profissional iniciada na LA-Antarte, em 2011, equipa que voltou a representar entre 2015 e 2016, depois de passar pela Carmin-Prio (2012) e pela versão Banco BIC-Carmin da formação tavirense (2014), além da italiana Ceramica Flamínia-Fondriest (2013).
Após a prestação na Volta de 2017, em que foi segundo atrás de Alarcón, já depois de ter vencido o Troféu Joaquim Agostinho, emigrou para a polaca CCC, que no ano seguinte subiu ao WorldTour. Isso permitiu-lhe participar na Volta a Itália, em que foi terceiro na 19.ª etapa, após ter andado no "top-10" da geral entre a sexta e a 11.ª tiradas.
No regresso ao país natal, ganhou duas Voltas a Portugal. Situa-se, a par de Joaquim Agostinho e Alves Barbosa, no lote dos terceiros mais vitoriosos, atrás de David Blanco (cinco) e Marco Chagas (quatro).
"Agora, é hora de aproveitar outras coisas da vida e de estar presente para as pessoas que mais amo. Deixo um especial agradecimento à minha família, equipas onde competi, colegas e adversários que me fizeram sempre melhorar e crescer como ciclista, e a todos os que me apoiaram durante a minha carreira", diz ainda no comunicado.
Por "uma nova era do ciclismo" português
Apesar de ter contrato assinado com a ABTF-Feirense para a presente temporada, Amaro Antunes, que não competia desde junho, após o escândalo que fez a União Ciclista Internacional (UCI) retirar a licença à W52-FC Porto na véspera da Volta a Portugal, optou por um final abrupto da carreira.
"Espero e desejo, face aos últimos acontecimentos, que uma nova era do ciclismo possa emergir em Portugal", conclui a nota assinada pelo ciclista de Vila Nova de Cacela.
A decisão de Amaro Antunes é conhecida três dias depois de a Lusa ter revelado que o MP acusou 26 arguidos, incluindo o antigo diretor desportivo Nuno Ribeiro e o "patrão" da equipa, Adriano Quintanilha, de tráfico de substâncias e métodos proibidos.
Estes dois respondem ainda pelo crime de administração de substância e métodos proibidos e são acusados, a par do diretor geral Hugo Veloso, de terem elaborado "um esquema" de dopagem para "aumentarem a rentabilidade" dos corredores da equipa.