A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou, nesta quarta-feira, a existência de 14 casos de varíola dos macacos (ou “Monkeypox”) e a existência de outros casos suspeitos só durante este mês.
Que vírus é este?
O presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, Vítor Duque, explica que este vírus não é novo. É conhecido, pelo menos, desde 1958, quando foi identificado em macacos de origem asiática, sobretudo os que estavam em cativeiro, em experiências científicas na Dinamarca.
Só mais tarde, em 1970, é que se identificaram, na República do Congo, casos no homem, especialmente em crianças, e chegou-se à conclusão de que o vírus era o mesmo.
A transmissão nesses casos é feita preferencialmente para as crianças, porque são as crianças que brincam com carcaças dos animais e contactam com os símios. Não quer dizer que o reservatório deste vírus sejam os símios – provavelmente, são roedores e o vírus infeta os macacos como infeta os homens.
O que se está a passar agora?
Este vírus é entendido como uma zoonose, ou seja, uma doença dos animais que pode transmitir-se ao homem. E é o que está a acontecer neste momento.
Está, portanto, a haver, pelo que se admite, uma disseminação inter-humana e, na opinião de Vítor Duque, “isso é um problema a que temos de estar atentos”.
Como pode ocorrer o contágio?
Provavelmente, os casos que identificámos em Portugal terão tido origem noutro país – indivíduos que estiveram noutros países e tiveram contacto com pessoas infetadas ou então foram pessoas de outros países, infetadas, que vieram em Portugal e transmitiram.
Este vírus é de fácil transmissão?
Não é fácil o vírus transmitir-se de pessoa a pessoa. E também não é fácil transmitir-se entre os símios, portanto, a taxa de ataques secundários anda por volta de 9%.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cadeia de transmissão mais longa documentada é de seis gerações, o que significa que a última pessoa a ser infetada nessa cadeia estava a seis elos de distância do doente original.
Mas como se propaga este vírus?
A disseminação que está a acontecer resulta, provavelmente, do contacto íntimo entre as pessoas; do contacto direto com lesões, pele com pele. Eventualmente, através de fluídos biológicos.
Aparentemente, a via respiratória não se coloca e não há dados em relação a isso.
E se ficarmos infetados, é grave?
Nem todos desenvolvem doença e a gravidade dela varia de indivíduo para indivíduo. Grande parte dos casos são assintomáticos. Existem depois casos ligeiros com lesões cutâneas até cerca de 25 lesões e existem casos graves com infeção disseminada e doença grave. São esses que levantam questões em termos de mortalidade.
Dos casos identificados em Portugal, nenhum
configura um quadro clínico grave.
Que cuidados devemos ter?
Admitindo que a disseminação é por via sexual, é preciso ter atenção às pessoas com lesões cutâneas com quem alguém antecipa ter uma relação sexual, dado que as manifestações são mais ou menos evidentes.
Pode haver casos com um pequeno número de lesões, mas que têm capacidade também de se transmitir.
Atenção também ao contacto íntimo com pessoas que estiveram em contacto com pessoas infetadas.
Segundo a diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e Infeção por VIH da DGS, os casos “foram identificados em contexto de atendimento numa clínica de doenças sexualmente transmissíveis porque apresentavam também algumas lesões genitais”.
Em declarações à Renascença, Margarida Tavares confirma que, não estando “descrita classicamente a via de transmissão sexual”, a doença “transmite-se por contacto próximo, íntimo prolongado”.
A que sintomas devemos estar atentos?
Os principais sinais de varíola dos macacos são lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço.
Se tiver estes sintomas, deve procurar um médico e manter o afastamento social, recomenda a Direção-Geral da Saúde.
Tem período de incubação?
Sim, varia entre 5 e 21 dias. O estado febril dura, habitualmente, entre um e três dias. Nesta fase, os sintomas são febre, forte dor de cabeça, nódulos na garganta, dores nas costas e nos músculos e falta de energia.
Passado este estágio, começam as erupções/lesões, que duram entre duas e quatro semanas. Podem ter mais ou menos relevo, aparece em forma de pápulas (com dor associada) ou pústulas com pus, seguidas de crosta.
A doença afeta, sobretudo, crianças.
Como se trata?
O tratamento depende dos sintomas, mas a medicação é, acima de tudo, paliativa.
Neste momento, e segundo a OMS, estão ainda em investigação fármacos que possam ser eficazes contra a infeção pelo vírus.
Em que outros países anda o vírus?
Já foram detetados casos de varíola dos macacos nos Estados Unidos, no Reino Unido e em Espanha. São casos que se tornam mais notórios por causa dos alertas em relação a este tipo de infeção a disseminar-se de uma forma nova entre os humanos, afirma o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia.
Agora é que vamos começar a conhecer onde há infeções e focos de infeção noutros países, sendo provável que, nos próximos dias, tenhamos um aumento do número de casos como resultado da possibilidade de fazermos um diagnóstico, da chamada de atenção da comunidade médica para esta doença.
No entender da OMS, as populações tornaram-se mais suscetíveis à varíola em resultado do término da vacinação de rotina contra a varíola, que oferecia alguma proteção cruzada no passado.
A vacinação contra a varíola com a vacina contra a varíola de primeira geração, à base de vírus ‘vaccinia’ mostrou ser 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos no passado.
Assim, as pessoas que foram vacinados contra a varíola na infância podem ter alguma proteção remanescente contra a varíola dos macacos, diz a organização.