A um mês das eleições legislativas, Paulo de Morais defende um adiamento da ida às urnas.
Em causa está a espiral de infeções e de isolamentos profiláticos motivados pela Covid-19 e que poderão impedir centenas de milhar de eleitores de exercerem o seu direito de voto.
Em declarações à Renascença na qualidade de matemático, o ex-candidato presidencial Paulo de Morais antecipa que “o facto de haver centenas de milhar de portugueses em confinamento ou, mesmo, infetados com Covid, vai distorcer completamente o resultado das eleições”.
Aquando das eleições últimas eleições presidenciais, em janeiro deste ano, mais de 130 mil eleitores não puderam votar por estarem doentes com Covid-19 ou em quarentena.
Segundo as projeções de alguns especialistas, perante a avalanche diária de novos casos, no final de janeiro esse número poderá ser ainda mais elevado. E as eleições legislativas estão marcadas para 30 de janeiro.
Para Paulo de Morais, faria sentido adiar o ato eleitoral, “porque as eleições não são verdadeiramente democráticas quando todos os cidadãos devidamente inscritos, recenseados, em condições de votar, não podem exercer o seu direito de voto. Ou seja, o princípio 'um homem, um voto' não se vai verificar nas próximas eleições legislativas”.
“Se os partidos ditos democráticos o fossem efetivamente, defenderiam o adiamento das eleições”, conclui.
“É muito difícil antecipar consequências políticas”
Impõe-se a pergunta: quem terá mais a ganhar ou a perder se, a 30 de janeiro, o número de portugueses que não consigam votar for muito elevado?
Para o politólogo Pedro Magalhães, especialista em sondagens, é muito difícil antecipar as consequências políticas de um grande número de pessoas que, eventualmente, não possam ir votar por causa da pandemia.
Entre as muitas variáveis em jogo, Pedro Magalhães começa por lembrar, em declarações à Renascença, que “nem todas as pessoas em confinamento tencionam ir votar”.
E isso levanta ainda mais questões: “quais as pessoas que iriam votar e que não foram votar por causa do confinamento? Para responder a isso, não basta dizer os números das pessoas que estavam confinadas”.
Embora se possa presumir que, quanto maior o número de pessoas que tenham de estar em isolamento obrigatório, maior será também o número de pessoas que não irão votar, “não sabemos qual é o perfil político, ideológico, de simpatia partidária, de posicionamento em relação à política” que possa caracterizar o contingente de eleitores impedidos de votar por razões sanitárias. que tenda a caracterizar esse contingente.
“Não sabendo isso, também é muito difícil antecipar quais poderão ser as consequências políticas - tomando aqui por políticas a questão da distribuição do apoio aos partidos - de um número grande de pessoas que não pode ir votar. É muito difícil responder”, remata Pedro Magalhães.