Maioria satisfeita com gestão da pandemia, mas jovens bebem mais e dormem menos
12-07-2021 - 06:10
 • Lusa com Renascença

Ao nível do trabalho, 38% dos entrevistados acusam uma situação de insegurança, reportando ter gastos equivalentes aos ganhos, e quase 20% assumem que tem sido necessário recorrer a poupanças ou contrair dívidas para fazer face aos gastos correntes.

Veja também:


A maioria dos inquiridos num estudo divulgado esta segunda-feira manifestou-se satisfeita com as medidas adotadas pelo Governo no último ano para combater a pandemia de Covid-19, apesar das consequências económicas e ao nível da saúde mental. O mesmo estudo conclui ainda que os jovens são o grupo que tem tido mais problemas sociais com a pandemia com mais peso, pior sono, mais álcool e drogas.

São conclusões de um estudo divulgado esta segunda-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre os "Impactos económicos, sociais e políticos da Covid-19 em Portugal".

Metade dos entrevistados com idades entre os 15 e os 20 anos referem alterações de peso ou do sono, 20% admitem um aumento do consumo de álcool e de tabaco e 11% começaram a tomar fármacos psicotrópicos.

Os coordenadores do estudo sublinham que os jovens ficaram muito menos ativos, com o sono irregular devido às alterações dos horários escolares, e deixaram de ter os ciclos de vida habituais.

De acordo com os resultados da primeira roda de inquéritos, realizada entre 16 de março e 20 de maio, três quartos dos inquiridos consideram-se, pelo menos, razoavelmente satisfeitos com as medidas tomadas pelo Governo no âmbito do combate à pandemia.

Entre as medidas que merecem melhor avaliação, os inquiridos apontam as restrições à circulação e à atividade no segundo confinamento, o recurso ao ensino a distância novamente em fevereiro, o pedido de ajuda médica a outros países, a política de aconselhamento científico e o plano de vacinação contra a covid-19, ao contrário das medidas implementadas no período do Natal e Ano Novo, consideradas positivas por apenas 25% dos inquiridos.

Em linha com esta relativa satisfação, a maioria dos inquiridos (60%) afirmou confiar no executivo, um número que aumenta para 81% quando se fala do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e para 85% a respeito do Presidente da República.

Já o Ministério da Saúde foi considerado o organismo estatal que mais se evidenciou pela positiva, mas a maioria (72%) concorda que deveriam ser os especialistas a tomar as decisões sobre combater o SARS-CoV-2.

Saúde mental. Seis em cada 20 sentiram-se sozinhos

Por outro lado, os resultados revelam também os efeitos negativos de mais de um ano com medidas restritivas, em termos económicos, sociais e de saúde mental.

“Ao nível da saúde mental, e apesar de não ser ainda possível com os presentes dados estimar um padrão de alteração específico, podemos concluir que houve um impacto negativo”, lê-se no relatório.

Por exemplo, seis em cada 20 inquiridos sentiram-se sozinhos durante o ano passado e, em comparação com o período pré-pandemia, a percentagem de pessoas que considerava que a sua vida se aproximava daquilo que idealizava passou de 71% para 22% no primeiro confinamento, subindo ligeiramente para 30% no segundo.

“Os dados permitem verificar que o isolamento social prediz de forma significativa as quebras reportadas neste bem-estar subjetivo, sendo particularmente penalizadores os sentimentos de solidão”, acrescenta o documento.

Ao nível do trabalho, 38% dos entrevistados acusam uma situação de insegurança, reportando ter gastos equivalentes aos ganhos, e quase 20% assumem que tem sido necessário recorrer a poupanças ou contrair dívidas para fazer face aos gastos correntes.

Dois em cada dez inquiridos reportaram que eles próprios, ou algum membro do seu agregado familiar, ficaram desempregados durante a pandemia e 34% afirmaram que o rendimento do seu agregado familiar diminuiu no último ano e meio.

Estas conclusões parecem fazer sentido, quando comparadas com um outro dado, segundo o qual pouco mais de metade dos inquiridos concordam que no combate a uma pandemia é mais importante dar prioridade à saúde pública, em detrimento da atividade económica e do emprego, enquanto 23% defendem o oposto.

Por outro lado, a grande maioria (86%) admite que as limitações às liberdades públicas foram completamente justificadas ou, pelo menos, justificadas em certa medida, mas 43% dos inquiridos consideram que a democracia foi enfraquecida durante o período de pandemia.

OMS aprovada pelos portugueses

O estudo olha também para a perceção dos portugueses relativamente à política internacional e, segundo os resultados, os inquiridos parecem responsabilizar, pela negativa em termos da origem ou gestão da pandemia, a China (53%) que é também destacada, pela positiva, em 20% das respostas, como um dos países que contribuíram para uma maior coordenação coletiva de esforços.

Relativamente às instituições supranacionais, a maioria (63%) aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS) como a principal organização a desempenhar um papel positivo, mas apenas 15% valorizaram o papel da União Europeia (UE).

“Uma das possíveis razões para essa avaliação pode ser encontrada na dificuldade em coordenar as respostas nacionais”, aponta o relatório, que refere que pouco mais de metade dos inquiridos (57%) consideraram positiva a opção de encarregar a Comissão Europeia (CE) do processo de compra de vacinas.

Ainda relativamente ao impacto da pandemia de covid-19 na economia, os setores do comércio, indústria e transportes foram os mais afetados no segundo trimestre de 2020, a que se junta a agricultura no trimestre seguinte.

Do lado das famílias, em termos de consumo, foi na restauração, beleza e bem-estar, viagens, cultura, vestuário e alojamento temporário que a maioria reduziu despesas, que aumentaram, por outro lado, nos setores da eletricidade, gás e água, no comércio ‘online’ e retalho.

A segunda vaga do estudo da FFMS decorreu em setembro e os resultados finais deverão ser publicados na primavera de 2022.

Foram recolhidas três amostras de aproximadamente 1.150 participantes cada e o projeto, que conta com a colaboração de investigadores de diferentes universidades, é coordenado por Carlos Jalali, da Universidade de Aveiro, que assumiu a coordenação depois da morte de Nuno Monteiro, da Universidade de Yale, em maio.