Há pouco mais de uma semana foi notícia uma série de escândalos de corrupção na Ucrânia, envolvendo a demissão de altas figuras do Estado, incluindo do gabinete do presidente Zelensky. É chocante saber que há políticos que lucram com as desgraças do seu próprio país. Infelizmente, sabe-se que estas coisas acontecem até em situações de guerra.
A coragem e a determinação dos ucranianos na defesa da sua terra, invadida pela Rússia, parece incompatível com atos de corrupção. Mas não é. Depois das notícias iniciais sobre estes casos, a imprensa internacional quase não voltou ao assunto, talvez para não prejudicar a ajuda que vários países prestam à Ucrânia. Pelo menos quanto ao envio de tanques para as forças armadas ucranianas não se registou qualquer recuo, pelo contrário.
É conhecido desde há muitos anos que a Ucrânia sofre de níveis elevados de corrupção. Em 2021 a Transparência Internacional classificou a Ucrânia no 122º lugar em 180 países, no seu “ranking” de Estados corruptos. E em 2017 o centro de investigação Chatham House, com sede em Londres, tinha declarado que os oligarcas representavam “o maior perigo para a Ucrânia”. A guerra fez perder muito dinheiro a alguns desses oligarcas. Assim diminuiu um pouco o poder desses super-ricos na Ucrânia.
Zelensky foi eleito presidente para combater a corrupção. E agora reafirmou a sua posição de tolerância zero a este flagelo. Zelensky prometeu que o seu país não regressará a maus hábitos do passado, quanto à maneira como certas pessoas e instituições costumavam viver.
Em plena guerra, com boa parte do país ocupada por soldados russos e mercenários contratados por Moscovo, é notável que Zelensky e os seus colaboradores ainda tenham energia para combater a sério a corrupção. É motivo para os aliados da Ucrânia, longe de diminuírem o seu apoio, o reforçarem.
Francisco Sarsfield Cabral