Como é normal em situações deste tipo, em que se gera um quase pânico, principalmente face às consequências dos chamados episódios climáticos extremos, surge a ocupação do debate com pseudo-soluções não só inexequíveis mas que, se fossem adoptadas, teriam consequências mais gravosas ainda que as alterações climáticas. Entre essas pseudo-soluções encontra-se a proposta de que devemos voltar à agricultura tradicional, proposta tanto mais perigosa quanto é certo que muitas vezes tem bom acolhimento nos media.
É verdade que, a nível mundial se produzem hoje bens alimentares suficientes para alimentar todos os 7.700 milhões de seres humanos. A fome e a malnutrição continuam no entanto a existir em números tais que nos deveriam fazer corar de vergonha porque resultam da má distribuição e do desperdício de alimentos.
Voltar à agricultura tradicional seria reduzir fortemente a produtividade do sector que deixaria de poder ser a base de alimentação de quase 8 mil milhões de pessoas. Muita gente morreria (certamente muitos milhões) se tal retrocesso fosse exequível. A adaptação às alterações climáticas não pode ser feita voltando às tecnologias medievais. Pelo contrário, precisamos de tecnologias mais sofisticadas porque terão de ser ao mesmo tempo produtivas, parcimoniosas na utilização de água e redutoras da emissão de gases com efeitos de estufa. A curto prazo, entretanto, há algo de muito importante que exige políticas verdadeiras e não o faz-de-conta habitual, mas que pode ser feito: a redução drástica do desperdício alimentar e a reforma das sociedades (ricas ou pobres) que permita que, com a produção actual, todos tenham acesso a uma alimentação suficiente.