Sorridente, com ar simpático e disponível, o arcebispo de Madrid é um dos cardeais mais jovens que passa integrar o Colégio Cardinalício. Aos 57 anos, D. José Cobo Cano olha para a atual crise na Igreja Católica como uma oportunidade e redobrado desafio.
Em declarações à Renascença, horas antes de receber o barrete e o anel cardinalícios, revela como encara a sua missão.
O que significa ser cardeal hoje?
Creio que, nestes tempos, o grande desafio é o de traçar um perfil de como a Igreja se deve posicionar no mundo, de uma nova maneira. Ou seja, estamos num momento politicamente complicado, vivemos um momento social com muitos elementos novos, como a migração, o papel da mulher, não só na igreja mas na sociedade, uma desigualdade terrível.
Quero dizer que temos grandes desafios e a igreja deve continuar a aprender a situar-se perante esses desafios. E devemos fazê-lo em conjunto, não cada um para seu lado, mas dando respostas em conjunto.
A Igreja está a perder a prática dos jovens. Mas, por outro lado, vimos como a Jornada Mundial da Juventude, por exemplo, foi atrativa. Então, o que falta?
Estamos num momento que é uma oportunidade. Posso dizê-lo de Espanha e penso que também se aplique a Portugal. Neste momento, a prática religiosa diminuiu, sociologicamente, tem menos protagonismo, mas a Igreja ainda está muito presente: nas cidades, nas cidades e a Igreja tem algo que é a espiritualidade e a experiência de Deus, que é o que os jovens têm vindo a pedir.
As pessoas têm necessidade de Deus e nós temos a experiência de Deus. Creio que devemos conectar a sede que as pessoas têm com as notícias que temos para dar.
Acredito que, neste momento, a nossa possibilidade não passa sermos um local de serviços de cultos que ofereça sacramentos e bodas, mas que ofereça um sentido.
Que tipo de ofertas?
Que ofereçamos aos migrantes a capacidade de os ouvir e acolher, e aos pobres, capacidade de esperança, que expliquemos às famílias que vale a pena viver a vida assim e que aos que nos pedem algo, expliquemos que o homem não se faz a si mesmo, mas vem de Deus e quem tem esperança em Deus.
Acho que essa é a chave para a igreja falar agora. Falar de Deus onde Ele esteja, não um Deus de ideias, não um Deus de livro, mas um Deus de experiências concretas. Acredito que se alguém vem à igreja e encontra uma comunidade ou alguém que lhe dá esperança, é isso que vale a pena.
Ou seja, uma Igreja minoritária, mas com maior qualidade.
Minoritária sim, mas significativa, que diga algo. Que onde haja Igreja, diga algo às pessoas.
É por isso que o Santo Padre o fez cardeal?
Não sei, não sei por que o fez… Creio que o Papa pensou em nomear alguns de uma geração diferente, que tivéssemos experiência em âmbitos muito pastorais, nas dioceses e nas paróquias, e escolheu alguns que fizeram esse caminho e que agora poderão contribuir com a sua experiência para o Colégio Cardinalício.