O Irão disse esta sexta-feira que não reconhece a missão independente aprovada pela ONU para investigar possíveis violações das liberdades fundamentais nos protestos desencadeados após a morte, em setembro, da jovem Mahsa Amini.
"A República Islâmica do Irão considera a formação de qualquer mecanismo para examinar os acontecimentos dos últimos dois meses no Irão desnecessária e uma violação da soberania nacional e não reconhece a missão estabelecida para este fim", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou na quinta-feira a criação de uma missão de inquérito independente para "recolher e analisar provas" de violações dos direitos humanos na repressão, que já causou mais de 300 mortos, incluindo 40 crianças, e quase 15 mil detidos.
A resolução que inclui este novo mecanismo de investigação foi aprovada com 25 votos a favor, 16 abstenções e seis contra, incluindo a China, que tinha anteriormente tentado, sem sucesso, que o texto que aludia à criação da missão de investigação fosse retirado.
O Irão condenou e rejeitou a resolução "imposta por alguns países ocidentais ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU" e defendeu as ações face às manifestações que exigiam o fim da República Islâmica.
"As forças de segurança iranianas lidaram com os desordeiros com a máxima contenção e dezenas de polícias e pessoal de segurança foram mortos e milhares de pessoas ficaram feridas", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros, sublinhando também que as autoridades persas demonstraram "o máximo apaziguamento e bondade humana para com os detidos e especialmente a máxima tolerância para com as mulheres".
"Erro histórico" impulsionado por objetivos políticos
O Irão apontou diretamente para a Alemanha, um dos principais patrocinadores da resolução, que acusou de cometer "um erro histórico", impulsionado por "objetivos políticos" e "falsas notícias".
"Esta forma de agir não só não promove os direitos humanos, como também os torna vítimas de um certo grupo de países", afirmou.
Os protestos foram, inicialmente, desencadeados pela morte, a 16 de setembro, de uma jovem curda iraniana de 22 anos, Mahsa Amini, detida três dias antes pela polícia dos costumes iraniana por alegado uso indevido do 'hijab', o véu islâmico.
Nos dias seguintes, os protestos contra o uso da força no Irão foram dando lugar a manifestações de apoio às mulheres, cada vez maiores e em mais cidades, e foram-se estendendo às denúncias de atuação da Guarda Revolucionária iraniana, unidade de elite do regime do 'ayatollah' Ali Khamenei.
As autoridades responderam com uma forte repressão policial, nos quais pelo menos 342 pessoas foram mortas, de acordo com a organização não-governamental Iran Human Rights, com sede em Oslo.
Além disso, mais de 15 mil pessoas foram detidas nas manifestações, das quais pelo menos duas mil acusadas de vários delitos pela participação nos protestos. Até agora, seis dos acusados foram condenados à morte.
O Governo iraniano acusou os Estados Unidos, Israel e países europeus de tentarem provocar uma guerra civil a fim de desintegrar o país persa através dos protestos.
Teerão também apontou o dedo a países europeus como a Alemanha, cuja embaixada está alegadamente no centro da conspiração, de acordo com alguns meios de comunicação iranianos, e a França, acusada de enviar espiões para fomentar os protestos.