O Governo da Etiópia anunciou esta segunda-feira um cessar-fogo unilateral em Tigray, num dia em que os rebeldes já terão entrado na cidade, que viu o governo interino apoiado por Adis Abeba abandonar a capital da região.
O Governo interino de Tigray saiu esta segunda-feira de Mekele, deixando a região sem uma autoridade política e administrativa, com as forças leais aos separatistas a avançar sobre a cidade.
“Todos saíram, os últimos esta tarde, a região não tem governo”, disse um membro do governo interino, citado pela agência France-Presse, sob condição de anonimato.
A agência Associated Press (AP) noticia, entretanto, que os rebeldes, que há semanas tentavam recuperar o controlo da sua capital, Mekele, já estão na cidade, o que terá motivado Adis Abeba a emitir um comunicado no qual anuncia um cessar-fogo imediato e unilateral.
Esta iniciativa "vai permitir aos agricultores cultivar as suas terras, ajudar os grupos humanitários a operarem sem qualquer movimento militar e vai possibilitar um envolvimento com os membros do antigo poder no Tigray que procuram a paz", segundo uma declaração oficial lida na televisão estatal.
De acordo com os números da Organização das Nações Unidas, pelo menos 350 mil pessoas estão a passar fome na região, mas o Governo central contesta estes números, com as duas partes em confronto a acusarem-se mutuamente.
Os confrontos entre os separatistas da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) e o Exército federal da Etiópia, apoiado por militares das regiões vizinhas e da Eritreia, continuam, apesar dos pedidos de cessar-fogo.
O gabinete do primeiro-ministro não respondeu aos pedidos de comentário da agência de notícias francesa sobre a retirada de Tigray.
A região do Tigray é palco de combates desde 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o Exército etíope para desalojar a TPLF, o partido eleito que então governava o estado etíope no norte da Etiópia, e que vinha há vários meses a desafiar a autoridade de Adis Abeba.
Abiy, Prémio Nobel da Paz em 2019, justificou a operação militar como resposta a um ataque prévio das forças estaduais do Tigray a uma base do Exército federal.
Desde o início do conflito, milhares de pessoas morreram e quase dois milhões foram deslocadas internamente, enquanto pelo menos 75.000 fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.