A especialista em assuntos do Médio Oriente Maria João Tomás considera que haverá uma resposta "quase certa" por parte de Israel, depois de o Irão ter lançado um ataque em grande escala contra Israel neste sábado à noite, como resposta à operação israelita que, no início do mês, matou 13 iranianos, incluindo dois generais dos Guardas da Revolução, num complexo diplomático em Damasco.
"É imediata esta conclusão. Até porque Israel não vai ficar quieta, até porque o seu ministro da Segurança Nacional, que se chama Itamar Ben-Gvir um dos mais ultranacionalistas e de extrema direita, já veio dizer que têm de responder com um grande ataque. Portanto, isto não vai ficar por aqui. Trata-se de um ministro, Itamar Ben-Gvir, que mantém refém Netanyahu no poder, porque se ele se demitir e se não fizerem aquilo que ele quer, o governo cai e Netanyahu vai preso. Portanto, ele diz que se não houver uma ofensiva que se demite e que é necessário um 'efeito esmagador'.", justifica Maria João Tomás.
Para a especialista, tal como o Irão, Israel vai recorrer ao mesmo argumento para poder responder ao ataque: o artigo 51º da Carta das Nações Unidas.
O artigo em questão refere que "nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais".
Israel mostrou ter tecnologia de ponta para se defender, mas para Maria João Tomás Netanyahu não vai ficar por aqui e vai tentar provar que além de capacidade de defesa, também exerce uma grande capacidade ofensiva.
"Netanyahu, ontem, no seu discurso, disse exatamente isso, que Israel vai mostrar que tem capacidade defensiva. E, ontem, a 'Iron Dome" funcionou quase na perfeição. Mas Netanyahu disse que tinham de mostrar que têm capacidade ofensiva e é isto que vamos esperar", explica. Para a especialista não é possível prever, neste momento, o que os Estados Unidos vão fazer, mas considera que será um "problema para Biden" e que, em vésperas de eleições, Trump se vai aproveitar da situação.
"Os Estados Unidos têm aqui um papel difícil, até porque Trump já está a dizer que isto com ele nunca teria acontecido e que isto foi uma mostra de fraqueza dos Estados Unidos. O que é que os Estados Unidos têm de fazer neste momento? Estão a reunir o G7 para tentar, penso eu, ver o que é que vão fazer. Mas vão sempre estar do lado de Israel. E isso é inequívoco. Até porque, dirão, tem um aliado poderoso que se chama Rússia", argumenta Maria João Tomás.
Para o inicio da noite está agendada uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que a especialista considera "fundamental", mas cujo resultado terá pouca "aplicabilidade prática", porque "há dois países que não estão alinhados, que é a China e a Rússia".
Este aumento de tensão entre Irão e Israel acabará por ter, segundo Maria João Tomás, um impacto direto no conflito em Gaza.
"Não tenho a menor dúvida de que os ataques a Gaza, nomeadamente a incursão em Rafah, vai ser ainda pior do que aquilo que se estava à espera. E por uma razão simples, porque o Hamas é um proxy do Irão e sendo um proxy do Irão é fundamental que se neutralize. Antes já tinham esse propósito, agora é de certeza para poder destruir o máximo possível".