Ainda não havia um campeonato nacional quando a seleção portuguesa realizou o primeiro jogo internacional. Foi há 100 anos em Madrid, a 18 de dezembro de 1921, no campo pelado Martínez Campos, propriedade do Racing de Madrid, clube extinto em 1977.
O tirocínio da seleção portuguesa foi dirigido por um árbitro belga, Barrette Cazelle. Assistiram ao jogo 12 mil espectadores. Portugal perdeu por 3-1. Para os espanhóis marcaram Alcantara (2) e Meana. O golo da equipa portuguesa foi apontado na cobrança de uma grande penalidade por Alberto Augusto.
A entidade que organizou a deslocação a Espanha foi a União Portuguesa de Futebol (UPF), que passou a denominar-se Federação Portuguesa de Futebol (FPF) cinco anos mais tarde, em 1926.
As camisolas do Casa Pia
Dos 11 jogadores que entraram em campo em Madrid, o clube mais representado foi o Casa Pia, com quatro elementos: António Pinho, Cândido de Oliveira, António Augusto Lopes e José Maria Gralha. Ribeiro dos Reis e Vítor Gonçalves também eram casapianos, embora representassem o Benfica.
José Maria Gralha tinha apenas 16 anos e continua a ser o mais jovem jogador de sempre a representar a equipa nacional.
A seleção ainda não tinha equipamento definido e viajou para Madrid com as camisolas do Casa Pia. O vogal da atual direção do Casa Pia, Hélder Tavares, historiador do clube explica a opção.
“Ainda conheci o António Pinho, que na altura foi considerado o melhor defesa direito da Europa, e um dia explicou-me que o problema foi resolvido pelo Ribeiro dos Reis e o Cândido de Oliveira. O preto e branco eram as cores da cidade de Lisboa e só havia um jogador do FC Porto, que era o Alberto Augusto. Havia jogadores que não queriam jogar com as cores da República, o verde e o encarnado. A implantação da República Portuguesa tinha sido há 11 anos e provavelmente havia elementos na equipa que eram monárquicos. Foi quase um ato político, acrescido do facto de haver seis casapianos na seleção, embora dois estivessem no Benfica, o Ribeiro dos Reis, autor da ideia para a cruz de cristo no equipamento do Casa Pia, e o Vítor Gonçalves, primeiro presidente do Conselho Fiscal do Casa Pia, pai do general Vasco Gonçalves”, detalha Hélder Tavares, em entrevista a Bola Branca.
Os nomes da primeira seleção nacional
De início, a primeira seleção portuguesa de futebol alinhou frente à Espanha com Carlos Guimarães (CIF-Club Internacional de Foot-Ball, de Lisboa); António Pinho (Casa Pia), Jorge Vieira (Sporting), João Francisco Maia (Sporting), Vítor Gonçalves (Benfica), Cândido de Oliveira (Casa Pia), António Augusto Lopes (Casa Pia), José Maria Gralha (Casa Pia), Ribeiro dos Reis (Benfica), Artur Augusto (FC Porto) e Alberto Augusto (Benfica).
A convocatória para o jogo foi elaborada por um comité de seis elementos: Carlos Vilar, Pedro Del Negro, Reis Gonçalves, Virgílio Paula, Plácido Duro e Júlio de Araújo. A lista de convocados gerou polémica por conter apenas um jogador de uma equipa nortenha, Artur Augusto, do FC Porto. A Associação de Futebol do Porto não gostou e o jogador, natural de Lisboa, acabou por comparecer na concentração, desautorizando os dirigentes portuenses que pretendiam boicotar a sua presença em sinal de protesto.
“Os clubes não se entendiam e o Porto fez uma campanha porque entendia que não ia à seleção o número suficiente de jogadores do Norte. A seleção jogar com as cores do Casa Pia e o clube ser o mais representado na seleção foi um feito histórico. O Casa Pia era o campeão de Portugal. Tinha ganho ao Porto a final do que hoje corresponde ao primeiro Campeonato de Portugal em 1920/21”, refere Hélder Tavares.
O capitão Cândido de Oliveira
Um nome sonante da história do futebol português capitaneou a primeira seleção nacional de futebol: Cândido de Oliveira, também fundador do Casa Pia Atlético Clube. Foi jogador do Casa Pia e do Benfica, treinador de emblemas como o Belenenses, Sporting, FC Porto, Académica e Flamengo, selecionador nacional e jornalista. Foi um dos fundadores do jornal "A Bola".
“A maior homenagem que a FPF fez à Casa Pia de Lisboa e aos casapianos foi dar ao único troféu que tem um nome no futebol português, a Supertaça, o nome de Cândido de Oliveira que foi tudo no futebol”, considera Hélder Tavares. O historiador e vogal da direção do Casa Pia lembra que Cândido de Oliveira “foi selecionador nacional, jogador, primeiro capitão do Casa Pia, capitão do Benfica, presidente da direção e treinador do Casa Pia. Até chegou a ser treinador do Casa Pia e do Belenenses ao mesmo tempo, em solidariedade com o Artur José Pereira que estava doente. Para não perder o dinheiro que ganhava no Belenenses, Cândido de Oliveira treinava as duas equipas ao mesmo tempo”, relata.
648 jogos em 100 anos
A seleção nacional de futebol em 100 anos de história realizou 648 jogos. A primeira vitória foi a 18 de Junho de 1925, por 1-0, num particular frente à Itália, no Lumiar, em Lisboa, golo de João Maia (Sporting).
A equipa das quinas conta com a presença em sete mundiais de futebol. A melhor classificação foi o terceiro lugar em 1966, em Inglaterra.
O maior feito da história da seleção foi alcançado em 2016, em Paris, com o título de campeã da Europa, tendo participado em oito fases finais da competição.
No palmarés da principal seleção portuguesa regista-se também a conquista da primeira edição da Liga das Nações em 2019, no Estádio do Dragão, no Porto. Portugal ocupa atualmente o oitavo lugar do "ranking" da FIFA.