A NATO encara as atuais conversações de paz sobre o Afeganistão como "uma vitória para o povo afegão que sofre há décadas" e não como uma derrota militar, disse à Lusa a secretária-geral ajunta da organização aliada.
"Não vejo qualquer espécie de derrota", disse Rose Gottemoeller, quando questionada, em entrevista à Lusa, sobre as conversações de paz a decorrer atualmente entre os Estados Unidos e representantes da rebelião talibã, ao fim de 17 anos de guerra e após mais de 100 mil civis e militares mortos.
"O que vejo é um acordo de paz que será uma grande vitória para o povo afegão, que sofreu tanto e desde há tantas décadas. Passam 40 anos desde a invasão soviética do Afeganistão em 1979", assinalou a responsável norte-americana, que na quinta e sexta-feira efetuou uma visita oficial a Portugal.
O Afeganistão foi invadido pelos EUA e a NATO em finais de 2001, na sequência dos ataques do 11 de setembro em Nova Iorque e Washington.
Para Gottemoeller, a missão de treino, aconselhamento e assistência às forças de segurança nacionais afegãs, designada Resolute Support Mission (RSM), "foi um fator decisivo para garantir as conversações de paz" que agora decorrem.
"Penso que todos devem reconhecê-lo, incluindo o povo de Portugal, porque os vossos bravos soldados nos ajudaram", defendeu.
No entanto, recusou "especular" sobre o desfecho de um acordo de paz e o futuro da organização aliada ocidental nessa região.
"Decerto que terão de existir algumas entidades envolvidas na aplicação do acordo de paz, mas não posso especular sobre a função de qualquer organização, sejam as Nações Unidas, NATO ou outras, incluindo a União Europeia. Aguardemos pelo resultado das conversações e pelo que se seguirá", disse.
A secretária-geral adjunta da organização, fundada em 1949 pelo Tratado de Washington, acentuou que o combate ao grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI) e à Al-Qaida permanece um dos objetivos centrais da NATO e hesita em referir-se a uma derrota destas duas formações radicais, que emergiram ou se reforçaram na sequência da invasão norte-americana do Iraque em 2003.
"Após 2014 assistimos ao designado 'califado' estabelecido em Mossul [norte do Iraque] pelo Daesh [acrónimo em árabe do EI]. Quase que pretendiam formar um país para si próprios. Esse califado foi derrotado, perderam terreno nas regiões que ocuparam, foram expulsos dos últimos locais na Síria, nesse sentido podemos dizer que se registou uma séria derrota do califado", afirmou.
No entanto, recordou que ainda existem combatentes do EI nessas regiões, pelo que a NATO deve prosseguir o combate à ameaça terrorista: "E vamos continuar a fazê-lo".
Ainda numa referência ao Iraque, fez alusão à missão que a NATO possui no terreno, de "treino, aconselhamento e assistência" e que foi iniciada nos últimos meses.
"Destina-se a instalar instituições de educação em defesa no Iraque, que deverá prosseguir, e esperamos que seja uma forma de reerguer a capacidade de defesa e das instituições de defesa do Iraque", disse.
Gottemoeller assegurou que a organização aliada pretende trabalhar no sentido da estabilização da região do Médio Oriente, admitindo "um certo grau de estabilidade no Iraque,", mas sem deixar de se referir a uma região volátil.
"Estamos preocupados com as contínuas reminiscências do EI, o envolvimento de outros grupos extremistas como o Hezbollah [xiita libanês] se nos referirmos à Síria. Temos de estar alerta face a esta volatilidade e a este tipo de extremismo violento, mas assistimos a uma estrutura de governação a ser criada no Iraque e pretendemos colaborar no âmbito da nossa missão", afirmou.
Sobre o encontro de quinta-feira no Vietname entre os Presidente dos EUA, Donald Trump, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un, sustentou que a NATO apoia há muito os esforços de desnuclearização da península da Coreia.
"Muito antes de o Presidente Trump assumir o cargo a NATO já defendia a total desnuclearização da península coreana e o regresso da Coreia do Norte ao Tratado de não proliferação de armas nucleares (NTP)", disse a secretária-geral adjunta, manifestanto apoio aos esforços norte-americanos e o desejo de que "se continue a progredir na direção certa".
No decurso da sua visita oficial a Lisboa, Rose Gottemoeller manteve contactos com os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Defesa, João Gomes Cravinho.
Deslocou-se ainda às Forças de Apoio e Ataque Naval (Naval Striking and Support Forces, STRIKFORNATO), à agência de comunicações e informação da NATO (Communications & Information Agency, NCI) e ao Centro conjunto de análises e lições aprendidas (Joint Analysis & Lessons Learned Centre, JALLC), o topo da estrutura da NATO em Portugal.
Manteve também um encontro com a comissão parlamentar de Defesa Nacional.