Há uma nova petição contra a construção do novo aeroporto do Montijo, mas desta vez foi criada por uma associação holandesa. Em causa estão os maçaricos, uma espécie de ave que vive nesta zona do Tejo, mas apenas durante uma parte do ano, já que no resto do tempo estes pássaros migram de África para a Holanda.
Esta petição, que pede ajuda para "parar com este plano desatroso", já conta com mais de 26.186 assinaturas.
Os holandeses estão preocupados com o facto desta ave nacional do país ser afetada pelo tráfego aéreo não conseguindo chegar ao destino no Norte da Europa.
A petição resulta de uma parceria entre a Associação para a Defesa das Aves da Holanda e a Organização Não Governamental BirdLife Europe.
O abaixo-assinado intitulado “Maçarico Sim! Aeroporto Não!” quer proteger as centenas de milhares de aves do estuário do rio Tejo e, em particular, o maçarico-de-bico-direito.
A associação não percebe como o Governo de Lisboa vai avançar com um projeto desta dimensão numa zona que faz parte da Rede Natura 2000, ou seja, uma rede de áreas designadas para conservar os habitats e as espécies selvagens raras, ameaçadas ou vulneráveis na União Europeia.
Segundo os números dos especialistas, ente janeiro e fevereiro, o estuário do Tejo é usado como abrigo e fonte de alimento por cerca de 50 mil maçaricos-de-bico-direito.
Esta iniciativa não surpreende a Sociedade Portuguesa pra o Estudo das Aves (SPEA). Joaquim Teodósio explica a importância desta espécie para os holandeses e o impacto que a construção do novo aeroporto tem para quem se preocupa com a preservação das espécies no estuário.
“A sua espécie nacional é o milherango (também conhecido por maçarico), que esteve bastante ameaçada, mas tem recuperado um pouco a nível europeu. Grande parte da população passa o inverno aqui no Estuário do Tejo e anualmente equipas de investigadores portugueses e holandeses estudam esta e outras espécies. Isto reflete bem a preocupação que vai um pouco pela Europa, porque quem se dedica à conservação desta espécie, percebe a relevância e a importância que tem a continuação do Estuário do Tejo no contexto europeu”, disse à Renascença.
Segundo as estimativas deste ano, durante a época de inverno, o Estuário do Tejo suporta entre 200 a 300 mil aves, o que revela a importância que esta zona tem para a preservação de milhares de espécies.
Joaquim Teodósio assume que não estão contra o aeroporto, pois tem que ser encontrada uma solução, mas aquela localização não lhes parece a mais adequada. “As centenas de pareceres negativos emitidos, que acabaram por não terem sido tidos em conta quando foi dada a decisão favorável, parece-nos que reflete bem todo o impacto que esta localização pode ter”, concluiu.
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) confirmou a viabilidade ambiental do projeto de construção do novo Aeroporto do Montijo, através da emissão de uma Declaração de Impacto Ambiental (DIA) favorável condicionada a algumas condições de mitigação dos efeitos da obra na vida da população e da avifauna.
“Esta decisão mantém o quadro de medidas de minimização e compensação (cerca de 160) que a ANA terá de dar cumprimento. As medidas ambientais ascendem a cerca de 48 milhões de euros”, refere a APA, em comunicado.
Oito organizações ambientalistas anunciaram que vão recorrer aos tribunais e à Comissão Europeia para travar o aeroporto no Montijo, por considerarem "ir contra as leis nacionais, as diretivas europeias e os tratados internacionais".