Brexit.“Não vamos pactuar com um corte abrupto”, avisa ministro da Educação
30-08-2019 - 06:50
 • Eunice Lourenço

Tiago Brandão Rodrigues manifesta preocupação com mudanças de orientação do Reino Unido, mas garante que Governo está atento a todas as situações que impliquem cidadãos portugueses.

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    Não há planos de contingência que resistam às mudanças de vento vindas do Reino Unido. Este foi o desabafo do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, perante os jovens que participam no Summer Cemp organizado pela Comissão Europeia, que termina esta sexta-feira, em Monsaraz.

    “Não vamos pactuar com um corte abrupto”, afirmou o ministro que viveu e trabalhou vários anos naquele país.

    “Necessariament,e há muita preocupação na Europa. E o Governo teve a capacidade de se precaver e de precaver o país para um conjunto de mecanismos. Os planos de contingência têm de funcionar e foram preparados para funcionar”, começou por dizer o ministro, que viveu e trabalhou vários anos em Cambridge.

    “Agora, como é óbvio, o que o Reino Unido nos tem feito é fazer com que o vento que sopra ou a previsão climática vá mudando de dia para dia, de minuto a minuto e isso faz com que até um velejador atento e com todos os planos de contingência se tenha de adaptar a cada momento.”

    Ainda assim, Brandão Rodrigues lembrou que “os portugueses há muitos séculos que sabem como bolinar”, explicando aos jovens que “bolinar é navegar contra o vento com uma vela triangular”, pelo que confia: “Conseguiremos também aqui neste processo acautelar muitos das situações.”

    O ministro disse que, por um lado, é necessário acautelar a relação com o resto da União Europeia e classificou como muito positivo a UE ter mantido as negociações a uma só voz, apesar das “vicissitudes e hesitações” do Reino Unido.

    “Mas Portugal tem ido mais longe, tem trabalhado bilateralmente com o Reino Unido sempre que é necessário e isso é conhecido”, continuou o ministro, para quem é necessário ter em conta que há “configurações muito diferentes” nas dezenas de milhar de portugueses que vivem naquele país. Há “muitos académicos que foram há pouco tempo, gente que tem ido tradicionalmente pela nossa relação académica muito alicerçada com o mundo anglo-saxónico”, há emigrantes que foram para Londres e para a zona de Manchester e até para as ilhas do canal, onde existem muitos madeirenses, “que necessariamente tem outro tipo de ocupações e preocupações”.

    Depois, prosseguiu Tiago Brandão Rodrigues, “há também muita gente que está no Reino unido e tem cidadania portuguesa, principalmente gente que cresceu e nasceu em Goa quando Goa ainda fazia parte de Portugal. Gente que tem cidadania portuguesa e, obviamente, não tem uma ligação muito alicerçada a Portugal, mas que são cidadãos portugueses e também é necessário acautelar”.

    “O governo tem tentado acautelar todas estas diferenças e acautelar também os 50 mil britânicos que aqui vivem e os milhões de britânicos que vêm aqui constantemente e têm em Portugal uma oportunidade de negócio, mas também de lazer. Mas também tantos e tantos cientistas que aqui estão do reino unido e portugueses que lá estão”, acrescentou o ministro manifestamente preocupado com a situação que se vive de perspetiva de um Brexit sem acordo a 31 de Outubro.

    “Temos de conseguir normalizar esta transição e temos de continuar a dizer ao Reino Unido que estamos aqui para os acompanhar nesta grande vicissitude que eles têm, agora não vamos pactuar com um corte abrupto porque estamos a criar as condições para que verdadeiramente possamos ter uma transição suave dentro daquilo que é possível”, afirmou Tiago Brandão Rodrigues, numa conversa que decorreu no Castelo de Monsaraz.

    Ao longo de quase duas horas, o ministro respondeu a várias questões sobre educação e terminou a admitir continuar no Governo depois das eleições. “Eu sempre me sinto motivado para servir, para fazer serviço público”, respondeu Tiago Brandão Rodrigues, lembrando que estava na “Disneylandia dos cientistas” quando foi convidado para vir para Portugal e não disse que não.