Veio da estação de Benfica, da linha ferroviária de Sintra, para apanhar, como todos os dias, o 750, para Algés, que a deixa em Alfragide, à porta do emprego. Atravessa as passadeiras e dá de caras com uma paragem de autocarro onde estarão cerca de 250 pessoas.
“Agora é só esperar pelo autocarro. Quando ele aparecer, vamos”, dizia, esperançada, Paula Monteiro, que não sabia da greve.
Confrontada com a notícia, encolheu os ombros e admitiu que, “sendo preciso”, fará o percurso a pé.
“Não trabalho longe, é em Alfragide”, dizia, enquanto tirava o casaco porque o calor já apertava e se fazia ao caminho. Uma hora depois, às dezenas de pessoas à espera juntaram-se outras tantas dezenas, acabando por levar a fila para uma rua adjacente, próxima da esquadra de polícia.
No meio da fila, ou melhor, na amálgama de habituais utentes da Carris entretanto espalhados junto á paragem, Humberto do Rosário, são-tomense há dois meses em Portugal. Estava aflito para chegar ao trabalho.
“O meu patrão já me ligou, a perguntar o que está a acontecer. Vou para Algés e não tenho outra alternativa para chegar. Deixo tudo na mão de Deus”. Mas nem a fé o salvou.
Entretanto, sucedem-se as paragens de veículos TVDE frente à paragem, para levarem, em grupos de quatro, trabalhadores da construção civil que há muito deveriam ter comparecido ao serviço.
E eis que chega um autocarro para o Bairro Padre Cruz. Poucos se chegam à frente para entrar no 729, porque a maioria o que quer mesmo é ir para Alfragide, Carnaxide ou Algés. E as alternativas não existiam.
Situação diferente enfrentavam os habituais utentes, como Emanuel Cruz, que estava encostado na Avenida da República a um dos pilares da estação ferroviária de Entrecampos, à espera de um autocarro.
“Eh pá! Não sabia da greve. Vim de férias e não sabia. Talvez seja melhor apanhar o metro, ainda que possa ir cheio”. E lá atravessa a rua para apanhar o metropolitano, logo ali, na estação de comboios.
Ao fim da fila que se foi formando chega Manuela Duarte.
“Eu estava a tentar ver o horário. Sei que hoje é dia de greve, mas arrisquei”, admite, garantindo que, necessariamente, tem de apanhar um autocarro para chegar ao emprego.
Tinha. Porque a opção acabou por ser um táxi.