O semanário “Expresso” repudia a acusação feita pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social, de “descontextualização” das palavras da ministra Ana Mendes Godinho sobre a situação nos lares. Decidiu, por isso, tornar pública a gravação desse excerto da entrevista.
“Passámos dos tais 365 surtos para 69 agora. Claramente, temos menos incidência de surtos a acontecer em lares. Se olharmos para 69 lares, representa 3% do total dos lares em Portugal. Temos 0,5% das pessoas em lares afetadas pela doença. Se contextualizarmos isto nos números, percebemos que a dimensão não é uma dimensão demasiado grande em termos de proporção. Claro que isto não significa que não devamos estar preocupados e mobilizados para reforçar até a guarda em tudo o que tem a ver com as pessoas idosas e, em concreto, na situação dos lares, por terem uma população em que mais de 50% das pessoas tem mais de 80 anos. E, portanto, logo isto é um fator de risco enorme", ouve-se no som.
No texto da entrevista publicada no sábado, a resposta vinha com a seguinte redação: “Tivemos 365 surtos [em abril] e temos 69 agora. Claramente, temos menos incidência. Temos 3% do total dos lares e temos 0,5% das pessoas internadas em lares que estão afetadas pela doença. A dimensão não é demasiado grande em termos de proporção. Mas, claro, que isto não significa que não devamos estar preocupados e mobilizados para reforçar a guarda”, explica o Ministério, acrescentando que “retirar uma parte essencial da frase, descontextualizando-a, e dando assim a entender que o Governo não considera graves os números de mortes em lares em Portugal, é um ato grave”.
A polémica surgiu por causa da aparente relativização que a ministra Ana Mendes Godinho faz do impacto da pandemia de Covid-19 nos lares em Portugal, que compara também com outros países europeus, e por ter afirmado que não leu o relatório da Ordem dos Médicos sobre o surto em Reguengos de Monsaraz.
Na sequência destas declarações, o CDS veio pedir a demissão da ministra e o PSD uma audição parlamentar urgente.
Na mesma entrevista, a ministra da Segurança Social defende o reforço na “aposta nos recursos humanos do setor social” e numa “numa nova geração de respostas sociais, mais vocacionadas para um envelhecimento ativo e saudável”.
Ana Mendes Godinho diz ainda que devemos retirar lições da pandemia, “até em termos de regras de construção” de novos lares, “para garantir, por exemplo, o isolamento sempre que necessário”.