Em média, 86 famílias pediram ajuda à associação de defesa do consumidor Deco este ano. Até ao dia 25 de Outubro, a Deco recebeu 26.080 pedidos de ajuda – mais 50 pedidos do que em igual período do ano passado. Os dados foram divulgados esta terça-feira pela associação.
Do total de pedidos de ajuda, apenas dois mil estão a ser acompanhados pela associação. Nos restantes, já não era possível intervir, até por motivos legais.
Os 2.001 processos abertos este ano, e em que a Deco é mediadora, representam mais 16 do que aqueles a que a associação deu acompanhamento até finais de Outubro de 2016.
Burla e fraude entre as causas para o sobreendividamento
Segundo os dados divulgados esta terça-feira pela associação, o desemprego mantém-se em primeiro lugar nas causas que motivaram o sobreendividamento, tendo sido referido em 30% dos casos.
A deterioração das condições de trabalho motivou 23,4% dos pedidos. Aqui, “estamos a isolar uma causa que tem a ver com as pessoas que estão a passar à reforma e que estão a sofrer cortes substanciais”, indica à Renascença Natália Nunes, do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco.
“O novo rendimento, proveniente da reforma – e muitas vezes esta passagem à reforma deveu-se a uma situação de desemprego de longa duração – não permite às pessoas honrar os compromissos que assumiram”, explica.
Seguem-se depois execuções/penhoras, o divórcio/separação e as doenças/incapacidade, com 10% cada.
Mas há uma nova origem do sobreendividamento das famílias: a burla e a fraude, “já responsável por 1,6% das situações”.
“Tem a ver muito com algumas entidades que existem no mercado e que se aproveitam das pessoas, nomeadamente, das pessoas em situação de dificuldade, prometendo-lhes créditos com todo um estratagema”, refere a responsável da Deco.
Outra origem para uma situação financeira deficitária são “investimentos mal sucedidos: aquelas pessoas que, confrontadas também com a situação desemprego, criaram o seu próprio emprego e não correu bem”.
Quanto às habilitações académicas, a maioria das famílias que pede ajuda tem o ensino secundário (36%) ou o 3.º ciclo (22%), representando o ensino superior 18%. Já as famílias com 1.º ciclo são 15% e com o 2.º ciclo 10%.
A taxa de esforço média dos consumidores que pediram ajuda à Deco era de 70,8%, acima dos 67% de 2016.
Como manter um orçamento familiar equilibrado?
Fazer um orçamento, cumpri-lo, não gastar dinheiro sem necessidade e colocar de lado dinheiro para as contas imprevistas são algumas das sugestões da Intrum Justitia (uma multinacional especializada em serviços de gestão de crédito) para manter o orçamento doméstico equilibrado.
Para tal, recomenda:
- Liste todas os gastos de cada mês
- Pense duas vezes antes de comprar alguma coisa – será que realmente precisa?
- Reserve dinheiro para contas que sabe que vão surgir, como impostos e seguro do carro, por exemplo
- Nunca assine um contrato até ler e compreender bem os termos estabelecidos
- Tenha em conta as letras pequenas dos contratos e evite custos extras pagando sempre dentro dos prazos
- Se sabe que não vai conseguir pagar uma despesa no prazo definido, negoceie novos prazos de pagamento para não incorrer em taxas de juro incomportáveis
- Se não pagar uma dívida dentro do prazo e for contactado por uma empresa de gestão de cobranças exponha a sua situação financeira com o objectivo de encontrarem possíveis soluções.
Mais de metade das famílias não consegue poupar
Mais de metade das famílias portuguesas (perto de 58%) não consegue poupar dinheiro todos os meses, revela a Intrum Justitia.
Segundo os mesmos dados, 42% dos inquiridos dizem que conseguem poupar uma média de 281 euros por mês.
Em Espanha, os números são mais elevados: 54% dizem conseguir poupar uma média de 375 euros – à semelhança da média europeia, com 50% a responderem que as suas poupanças são de 326 euros por mês.
Entre os que conseguem poupar, mais de 74% dos portugueses indicam esse dinheiro se destina a despesas imprevistas – uma preocupação que também existe em Espanha (76%) e na Europa (71%).
A Intrum Justitia considera que a crise mudou a atitude dos portugueses face à poupança, dado que 69% dos inquiridos reconhecem agora ser mais importante poupar dinheiro. Os portugueses são os que mais alteraram a sua atitude.
Em Espanha, apenas 64% mudaram a sua postura face à poupança e na Europa o número desce para 43%.